27 out, 2019 - 00:18 • Eunice Lourenço
O Papa promete uma exortação pós-sinodal que dê sequência às conclusões do Sínodo para a Amazónia que termina este domingo no Vaticano. “A exortação pós sinodal não é obrigatória. O mais fácil seria acatar o documento. Todavia, uma palavra do Papa sobre o que se viveu no sínodo pode ser útil. Quero fazê-la antes do fim do ano de forma a que não passe muito tempo... mas tudo depende do tempo que tenha para pensar”, afirmou Francisco num discurso em castelhano no encerramento dos trabalhos do Sínodo, este sábado.
O encerramento formal deste encontro que durante várias semanas debateu os problemas sociais, culturais e pastorais daquela região decorre este domingo, com uma missa presidida pelo Papa Francisco.
Contudo, este sábado, Francisco já falou longamente sobre o documento que tinha acabado de ser votado e que faz um diagnóstico preocupante da Amazónia, coloca a Igreja ao lado da defesa da vida e dos povos amazónicos e propõe várias opções pastorais, como a ordenação sacerdotal de diáconos casados que garantam a celebração da missa dominical nas regiões mais recônditas.
“Alguns acham que a tradição é um museu de coisas velhas”, disse Francisco para quem a tradição tem de ser “a salvaguarda do futuro e não a custódia das cinzas”. O Papa disse que a dimensão pastoral do documento é a principal e que é urgente que “o anúncio do Evangelho seja assimilado por estas culturas”. Por isso, nos debates do sínodo e no documento final de fala em “novo ministérios”, um termo que já o Papa Paulo VI tinha usado, e se pede criatividade.
Sem se pronunciar sobre a ordenação de homens casados, Francisco defendeu a criação de “seminários indígenas” porque “é uma verdadeira injustiça social que não se permita aos indígenas o caminho do seminário e do sacerdócio”. Quanto a novos ministérios, o Papa anunciou a reabertura com novos membros da comissão sobre o diaconado feminino e defendeu que o papel das mulheres na Igreja vai muito além das funções que desempenham na transmissão da fé e na preservação da cultura.
Em termos organizacionais, Francisco mostrou-se favorável à criação de “semi-conferencias episcopais” ou seja conferencias de bispos de determinadas regiões, como aliás existe em Itália (até o exemplo da conferencia dos bispos da Lombardia). E anunciou que vai propor ao Dicastério para o desenvolvimento humano, liderado pelo cardeal Turkson, uma seção própria para a Amazónia.
O Papa também aproveitou para fazer um desafio aos padres jovens para que passem algum tempo em terras de missão, “mas não na nunciatura”, avisou, gerando risos na sala.
Sem vencedores, nem vencidos
Já na parte final do discurso, o Papa Francisco pediu aos meios de comunicação social que não se fiquem pelas “questões disciplinares” do documento votado este sábado, mas também se foquem nos diagnósticos cultural, social, ecológico e pastoral que esse documento transmite. “Há o perigo de se entreterem nas questões disciplinares, em ver quem ganhou e quem perdeu”, disse o Papa, partido daí para uma critica às elites católicas.
“Há sempre um grupo de cristãos elitistas que se entretém com questões disciplinar intraeclesiásticas”, acusou Francisco, que levou para o seu encontro com os bispos e padres sinodais uma citação de Charles Péguy,
“Pensando nestas elites, católicas e cristãs, que se fixam nas coisas pequeninas e se esquecem do mais importante, lembrei-me de uma frase de Charles Peguy que fui buscar e vos pdoe ser útil: ‘Porque não têm a coragem de estar com o mundo, acreditam estar com Deus. Porque não têm a coragem de comprometer-se nas opções de vida do homem, acreditam lutar por Deus. Porque não amam ninguém, acreditam que amam a Deus’”, citou o Papa, acrescentando que este texto o “iluminou” muito e deixando o desafio: “Não fiquem prisioneiros destes grupos.”