14 nov, 2019 - 12:13 • Liliana Monteiro
As prisões portuguesas “nem sempre estão preparadas para acolher uma mulher [que tenha abandonado um bebé], que precisa de um carinho muito especial e de um acompanhamento psicológico e psiquiátrico”, alerta o padre João Gonçalves, coordenador da Pastoral Penitenciária.
“Ela precisa de se recompor interiormente, porque é uma mulher que sofre muito, com certeza”, sublinha o padre, falando da jovem de 22 anos que vivia como sem-abrigo na zona de Santa Apolónia, em Lisboa, e deu à luz o bebé encontrado pouco depois dentro de um ecoponto, no passado dia 5 de novembro.
João Gonçalves recusa para já falar em crime, “porque pode ter-se tratado de um ato sem maldade”.
“Só uma mãe com problemas de saúde mental abandonaria um filho. Carrega consigo grandes problemas aos quais a sociedade não está atenta”, sublinha, lamentando o facto de numa sociedade onde as pessoas têm coisas a mais, não se partilhar mais e não se olhar e escutar mais o outro.
“Somos demasiado frios!”, constata.
O responsável por uma associação que dá apoio aos (...)
Ainda em declarações à Renascença, o coordenador da Pastoral Penitenciária defende que “podia dizer-se muito menos do que se diz [sobre o caso] e sermos menos juízes, menos julgadores”.
E considera que “esta jovem de 22 anos tem de ser muito ajudada para olhar para o futuro que tem dentro de si e ser otimista com um futuro marcado pelo erro que cometeu, é certo, mas precisa de apoio”.
Na terça-feira, a mãe do bebé, entretanto detida, agradeceu as manifestações de apoio que tem recebido e, através de um comunicado divulgado pela advogada, afirmou que "tudo será esclarecido em sede própria".
"Pede, contudo, que respeitem a sua situação e que lhe permitam aguardar com serenidade o desfecho do processo judicial", refere ainda o texto.