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Papa Francisco por uma Igreja com “rosto e carne” tailandeses

22 nov, 2019 - 07:33 • Aura Miguel , Filipe d'Avillez

O Papa dedica este segundo dia de visita à Tailândia à comunidade católica. De manhã encontrou-se com os religiosos e religiosas e depois com os bispos, insistindo na inculturação da fé.

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Papa Francisco por uma Igreja com “rosto e carne” tailandeses

O Papa Francisco apelou esta sexta-feira a uma maior inculturação do Cristianismo na Ásia, para que este deixe de ser considerado uma religião “dos estrangeiros”.

Francisco dedicou este segundo dia da sua visita à Tailândia à comunidade católica. De manhã encontrou-se com os religiosos, religiosas, seminaristas e catequistas e logo a seguir encontrou-se com os bispos tailandeses.

Nos dois discursos que fez as palavras do Papa foram de ânimo e de agradecimento pelo trabalho desempenhado por esta minoria num país onde a esmagadora maioria dos habitantes são budistas e os cristãos são vistos frequentemente como os seguidores de uma religião estrangeira.

“Quando preparava este encontro, li com alguma tristeza que, para muitos, a fé cristã é uma fé estrangeira, é a religião dos estrangeiros. Este facto impele-nos a buscar corajosamente modos de proclamar a fé ‘em dialeto’, tal como uma mãe canta as canções de embalar ao seu bebé. Com esta confiança, devemos conferir à fé rosto e ‘carne’ tailandesas, que é muito mais do que fazer traduções.”

A Igreja deve abandonar uma mentalidade de apresentar um Evangelho vestido de “roupagens boas, mas estrangeiras” fazendo antes “vibrar a alma dos nossos irmãos com a mesma beleza que fascinou o nosso coração”.

Com esta referência à beleza o Papa dirigiu-se de forma particular à noviça de 45 anos que foi escolhida para lhe fazer um discurso de boas-vindas. Benedetta Jongrak Donoran nasceu e cresceu numa família budista mas quando visitou uma igreja católica, ainda estudante, deixou-se cativar pela beleza do olhar de uma imagem de Nossa Senhora. Já a imagem de Cristo Crucificado, admite, meteu-lhe medo. Esse olhar foi o início de um processo que levou à sua conversão e batismo em 2012. Agora está numa ordem religiosa.

“Despertar para a beleza, a maravilha, a surpresa capaz de abrir novos horizontes e suscitar novos interrogativos. Uma vida consagrada que não seja capaz de se manter aberta à surpresa, é uma vida que parou a meio do caminho. O Senhor não nos chamou para nos enviar ao mundo a fim de impor às pessoas obrigações ou cargas mais pesadas do que aquelas já têm (e são muitas), mas para compartilhar uma alegria, um horizonte belo, novo e surpreendente”, disse o Papa, neste encontro com mais de mil pessoas.

“Não devemos ter medo de inculturar cada vez mais o Evangelho. É necessário procurar as novas formas de transmitir a Palavra, capazes de mobilizar e despertar o desejo de conhecer o Senhor: Quem é este homem? Quem são estas pessoas que seguem um crucificado?”

“A ovelha perde-se quando o pastor a dá por perdida”

Depois deste encontro o Papa teve outro, mais restrito, com os bispos tailandeses e alguns outros de diferentes países asiáticos. Francisco evocou a memória dos primeiros missionários naquele país, salientando que muitos dos que dedicaram a vida a espalhar a fé eram leigos.

“Não percamos de vista que muitas das vossas terras foram evangelizadas por leigos. Eles puderam falar o dialeto do povo, um exercício simples e direto de inculturação, não teórica nem ideológica, mas fruto da paixão por partilhar Cristo. O santo povo fiel de Deus possui a unção do Santo, que somos chamados a reconhecer, valorizar e difundir. Não percamos esta graça de ver Deus que age no meio do seu povo: como o fizera antes, fá-lo agora e continuará a fazê-lo.”

Contudo, Francisco alertou que o objetivo do Evangelho não é apenas transformar os homens, convertendo-os a Cristo, mas também transformar continuamente a própria igreja. “Um dos pontos mais belos da evangelização é dar-se conta de que a missão confiada à Igreja não consiste apenas na proclamação do Evangelho, mas também em aprender a crer no Evangelho e deixar-se transformar por ele; consiste em viver e caminhar à luz da Palavra que temos de proclamar.”

Nesse sentido, Francisco convidou os bispos a serem sempre próximos dos seus padres e dos seus fiéis. No caso dos primeiros, avisou que esta atenção deve ser redobrada “sobretudo quando os virdes desanimados ou apáticos, que é a pior das tentações do demónio” e no caso dos segundos lembrou que “a ovelha só se perde quando o pastor a dá por perdida, nunca antes”.

A visita do Papa prossegue esta sexta-feira com um encontro com líderes cristãos e de outras religiões, num país que tem também uma importante comunidade muçulmana. Francisco ainda celebra missa ao fim do dia com os jovens católicos.

Na manhã de sábado o Papa deixa a Tailândia, rumo ao Japão, onde passará mais alguns dias até regressar a Roma.

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