13 dez, 2019 - 21:40 • Liliana Carona
A casa de Aristides de Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato, vai receber, este fim de semana, alunos da disciplina de Religião e Moral. O grupo vai participar num simulacro para ter uma (pequena) noção das dificuldades porque passam os refugiados.
A residência do embaixador que salvou milhares de judeus do regime nazi vai ser a base de acolhimento de 70 "refugiados", que são afinal alunos do Ensino Secundário de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) dos Agrupamentos de Escolas de Carregal do Sal, da Escola Tomaz Ribeiro de Tondela e da Escola Secundária Alves Martins, de Viseu. Mas em Carregal do Sal, esta não é a única iniciativa pela paz. Há um “mural da consciência” em contínua construção, mas para já preparam-se as mochilas para um fim de semana num campo de refugiados.
Com a mochila às costas, Filipe Lourenço, de 15 anos, recebe o documento que lhe vai permitir entrar no campo de refugiados. “Temos que levar o nosso prato, colher e copo, um saco cama”, mostra enquanto a professora Lúcia Morgado lhe entrega um passaporte, salvaguardando que “só vão poder entrar no campo com o passaporte”.
Já com o documento na mão está Daniela Gomes, 15 anos, a frequentar, juntamente com o Filipe, o 10.º ano, da Escola Secundária de Carregal do Sal.
Olha para a casa de Aristides de Sousa Mendes e, sem esconder a emoção, afirma que “a casa representa parte de uma pessoa que foi bastante importante e que nos ensina, diariamente, os valores a ter em conta, como a solidariedade, ajudarmos os outros numa altura em que o amor é um valor transformador e o mais relevante na sociedade. Acolhermos os outros demonstra o quão somos amáveis. Esta casa representa parte da nossa história”, sublinha.
A casa de Cabanas de Viriato do cônsul Aristides de Sousa Mendes - que assinou 30 mil vistos a refugiados - volta a abrir portas para ser o ponto de chegada de 70 alunos que vão fazer de refugiados, sob a orientação da professora de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal, Lúcia Morgado.
“A comida vai ser retirada, tudo vem etiquetado, vão ter senhas de refeição, vamos simular situações em que se perde a senha e não podem comer uma segunda vez”, exemplifica, acrescentando que se trata de um campo de atividades com propostas da Polícia Marítima, GNR e Palhaços d’Opital e, no fundo, o que queremos é que os alunos experienciem algo que é muito falado hoje e que criem uma opinião mais fundamentada sobre o tema.”
A ideia de simular um campo de acolhimento de refugiados partiu das professoras de Religião e Moral de escolas de Carregal do Sal, Tondela e Viseu, que resumem em comunicado o objetivo da disciplina: “edifica, motiva, recria e cuida”.
Para a realização desta atividade já está confirmada a presença de elementos da Polícia Marítima (14 de dezembro, às 11h00); da GNR (14 de dezembro, às 15h00); do Projeto UNESCO da Escola de Carregal do Sal (14 de dezembro, às 17h00); dos Palhaços d’Opital (15 de dezembro, às 10h00); da turma do Curso de Proteção Civil do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal (15 de dezembro, às 11h00) e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (15 de dezembro, às 14h00).
No caso dos alunos da Escola de Carregal do Sal, esta não é a primeira atividade relacionada com Aristides de Sousa Mendes. Já têm no currículo um memorial, um mural em construção, um livro e os canteiros à volta da escola, cada um deles dedicado a uma etapa da vida de Aristides de Sousa Mendes, porque o mais importante é a bagagem que levam dentro do coração.
“No fundo a bagagem mais importante vai dentro de nós que é o nosso espírito crítico e de aventura”, destaca Daniela, corroborada pela professora de EMRC do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal, Eunice Santos: “por aqui só se constroem murais de paz. O mural da consciência, com azulejos e que nunca vai terminar. Pequeninos azulejos em que a pessoa pode deixar por escrito aquilo que pensa”, descreve.
O Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal, é uma Escola UNESCO, ou seja, está inserida no programa Escolas Associadas da UNESCO, criado em 1953 com o objetivo de trabalhar pela paz.