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Cardeal-patriarca de Lisboa

D. Manuel Clemente diz que é "urgente resolver" problema dos sem-abrigo. "É a própria sociedade que está desabrigada"

22 dez, 2019 - 14:50 • Sandra Afonso

D. Manuel Clemente presidiu à missa no último dia da Festa de Natal da Comunidade Vida e Paz. “A Deus nada é impossível, é preciso acreditar”, disse.

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Seja qual for o problema, acredite. O pedido foi deixado neste domingo pelo Cardeal Patriarca de Lisboa. “Desenvolvamos, sobretudo, esta atitude em nós de acreditar e dizer em cada dia ‘eu não sei como isso é possível’, mas a Deus nada é impossível!”, apelou na missa que celebrou na cantina da Cidade Universitária. “Esta certeza é que é a fé, a fé ativa. A fé significa, na tradição bíblica, aguentarmo-nos na nossa vida, a partir da promessa de Deus. Por isso, essa promessa sustenta-nos e leva-nos por diante. Como às vezes se diz, ‘já ganhou’! Porque, já vivemos da vitória que Jesus Cristo alcança e alcançará no mundo”, continuou D. Manuel Clemente.

O cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente considerou que a problemática dos sem-abrigo requer "urgência de resolução", assinalando que "a própria sociedade está desabrigada" quando estas pessoas "estão desabrigadas". "Concordo absolutamente com o Presidente da República no sentido da urgência da resolução [da questão dos sem-abrigo]", afirmou, ressalvando que se trata de "um problema quase estrutural", visível sobretudo nas grandes cidades, cuja "resolução não é fácil". Segundo o cardeal-patriarca, o "problema das pessoas sem-abrigo" é um problema da sociedade.

"Quando elas estão desabrigadas, é a própria sociedade que está desabrigada também", sustentou, realçando "a vontade reforçada da parte das autoridades", como chefe de Estado, Governo e autarquias, para que o assunto "não saia da agenda, não adormeça entre tantos outros problemas que há para resolver".

Na missa que marcou o último dia da Festa de Natal da Comunidade Vida e Paz para os sem-abrigo, o Cardeal Patriarca sublinhou ainda que os que têm fé já venceram os obstáculos: “Basta este sentimento e esta atitude diante de Deus em cada dia, diante da agenda que for e dos problemas que surgirem”. “É a única coisa que Deus nos pede – é com Maria dizer que sim”, afirmou.

Além da fé, é preciso esperança e perseverança. “Nunca deixemos fechar o coração perante qualquer tipo de problema ou dificuldade que surja. Nós os que temos a graça e o encargo da fé, temos de acreditar em Jesus Cristo, Deus responde, é Deus connosco, agora ressuscitado Ele enche o mundo inteiro”, afirmou.

Numa eucaristia a que assistiram sobretudo voluntários da Comunidade Vida e Paz e sem-abrigo, D. Manuel Clemente lembrou o exemplo de Roma, que no primeiro século depois de Cristo era uma imensa cidade, cheia de problemas que desafiavam a boa vontade, mas Paulo tinha uma certeza: a promessa de Deus vai cumprir-se. “É possível acontecer em Lisboa – seja onde for – aquilo que a pouco e pouco também aconteceu em Roma, à volta desta certeza, que as comunidades cristãs viviam e apresentavam. E naquela altura, como acontece hoje em vários sítios, infelizmente, ser cristão significa arriscar a vida.”

Durante a homilia, D. Manuel Clemente deixou depois um apelo à iniciativa, aos começos. “Como diz o Papa Francisco, o que é importante é iniciar processos. E depois vai-se vendo”.

Por fim, o Cardeal Patriarca lembrou que esta é uma celebração, antes de mais, de graças, e sublinhou que o Natal não é uma data: somos todos e cada um de nós. “Não estejam à espera do Natal, porque vocês já são Natal. Agradeçam! A missa chama-se Ação de Graças, a eucaristia. Agradeçam!”, pediu.

Este domingo, decorreu a 31ª festa de Natal da Comunidade Vida e Paz, na Cidade Universitária, em Lisboa.

Na segunda-feira, o Governo entregou no parlamento a proposta de lei do Orçamento do Estado para 2020, que prevê um reforço de 7,5 milhões de euros no apoio aos sem-abrigo.

Em 2018 havia em Porugal 3.396 pessoas sem teto ou sem casa, segundo as estimativas mais recentes citadas em novembro pela ministra do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, que prometeu para 2020 o funcionamento de uma plataforma para monitorização e acompanhamento em tempo real dos sem-abrigo.

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