08 jan, 2020 - 17:53 • Ana Catarina André
O cardeal D. Tolentino Mendonça, arquivista e bibliotecário da Santa Sé, defende que “a cultura tem um papel decisivo na coesão nacional dos povos e na prosperidade de uma cultura da paz nas relações internacionais”.
“A cultura é um recurso essencial para a construção da paz e é precisamente nos momentos de escassez e crise, seja ela de identidade ou de sentido como é a que o nosso mundo hoje em grande medida vive, que a cultura deve ser vista como motor e bússola de desenvolvimento”, disse o cardeal, numa conferência sobre cooperação, cultura e língua, que decorreu esta quarta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
“Apostar na cultura é apostar na vida, é investir no que a existência tem de mais profundo, de mais histórico e utópico, de mais pessoal e comum”, disse o cardeal, que centrou a sua intervenção no conceito de cultura e no pensamento do Papa Francisco sobre o tema. “A cultura está umbilicalmente ligada ao respeito pela diversidade, à tolerância, ao diálogo e à cooperação, a um clima de confiança e de compreensão recíprocas que constituem a garantia da paz e da segurança internacionais.” Citando a UNESCO, D. José Tolentino Mendonça sublinhou que “a diversidade cultural é tão necessária para a humanidade como a biodiversidade para a natureza”.
Numa altura “de mudança de época”, o cardeal português referiu duas linhas da cultura atual. “A linha do encontro que nasce quando aceitamos abraçar o risco do encontro com o rosto do outro, contrariando a suspeita, a desconfiança permanente, o medo de sermos invadidos, as atitudes defensivas que nos impõe o mundo atual. A par da cultura do encontro, temos a cultura do descarte, quando o ser humano ou determinados povos são considerados um bem de consumo que se pode usar e deitar fora”, disse. “Mais do que falar de explorados temos de falar de excluídos.”
D. José Tolentino sublinhou ainda a importância de uma ecologia integral, citando a encíclica sobre o tema – a "Laudato Si", de 2015. “A imposição de um estilo hegemónico de vida pode ser tão nociva como a alteração dos ecossistemas.” Referindo-se ao contexto nacional, D. Tolentino disse ainda que o desafio também se vive em Portugal, onde “o turismo coloca desafios para que não se extingam as culturas dos bairros”, uma “vitalidade fundamental para o equilíbrio do sistema”.