15 fev, 2020 - 15:25 • Filipe d'Avillez
A ajuda médica que o Vaticano enviou para a China durante a epidemia causada pela nova estirpe do coronavírus terá contribuído para uma melhoria das relações entre os dois estados, simbolizado pelo encontro, na sexta-feira, dos responsáveis pela pasta dos Negócios Estrangeiros de Roma e de Pequim.
O arcebispo Paul Gallagher, secretário do Vaticnao para as Relações com os Estados e o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, estiveram juntos e deixaram-se fotografar, à margem de uma conferência sobre segurança que decorreu em Munique, na Alemanha.
Segundo vários especialistas em relações entre o Vaticano e a China, citados pelo jornal chinês de língua inglesa, Global Times, o encontro foi facilitado pelo facto de a Santa Sé ter feito recentemente um donativo de milhares de máscaras cirúrgicas e material médico à China, para tentar combater a epidemia da nova coronavírus que já matou mais de 1.500 pessoas e infetou mais de 60 mil naquele país.
A República Popular da China e a Igreja Católica têm um historial complexo e de relações difíceis. Quando o regime comunista foi implantado no país a China expulsou todos os missionários e clérigos estrangeiros e deu início a um processo que visava controlar a Igreja local. O resultado foram duas estruturas que funcionaram durante décadas em paralelo, com uma igreja “oficial” reconhecida por Pequim e leal ao regime e outra “clandestina” leal a Roma. Dado o tamanho e a disparidade da China, havia regiões em que a divisão mal se fazia sentir e outras em que os fiéis da Igreja “clandestina” eram ferozmente perseguidos.
Um dos principais pontos de discórdia era a nomeação de bispos. China insistia que os bispos deviam ser nomeados pela Associação Católica Patriótica, leal ao regime, enquanto Roma continuava a reservar-se o direito de escolher os prelados.
Em setembro de 2018 foi feito um acordo histórico entre as duas partes que prevê que Roma faça a nomeação dos bispos, sob recomendação de Pequim, embora o Papa tenha o direito de vetar as sugestões chinesas.
Esse acordo tem o prazo de dois anos e por isso expira no próximo mês de setembro. O encontro entre o arcebispo Gallagher e Wang Yi, e a forma positiva como parece ter corrido, são um bom indício de que o acordo possa vir a ser renovado.