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"A Economia de Francisco"

"Há uma consciência ambiental mais forte" e isso também se deve ao Papa

18 fev, 2020 - 16:25 • Ângela Roque

Manuel Tovar e Margarida Alvim foram os convidados desta semana do espaço de colaboração Renascença/ACEGE sobre o encontro "A Economia de Francisco". O jovem empresário e a responsável pela Associação Casa Velha, uma associação que une ecologia e espiritualidade, analisaram os desafios do Papa para que se adotem novos estilos de vida e de consumo.

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Entrevista a Manuel Tovar e Margarida Alvim sobre "A Economia de Francisco", da jornalista Ângela Roque (18/02/2020)
Clique na imagem para ouvir a entrevista na íntegra. Foto: Sofia Moreira/RR

Margarida Alvim está à frente da Associação Casa Velha, onde se conjugam ecologia e espiritualidade através de diversas atividades culturais, sociais e espirituais, sempre em contacto com a natureza. Diz que foi com “muito entusiasmo” que viu o Papa convidar jovens empresários e gestores para refletirem sobre um novo modelo económico.

“A economia é um pilar o essencial da ecologia, e este é um tempo em que temos que descobrir a economia como relação entre as pessoas e entre as comunidades, um novo tipo de relação de troca, de bens e de doação, por isso sem dúvida que é um encontro muito importante para conseguirmos pensar ecologicamente e de uma forma integral este tema que hoje em dia está tão em voga, mas que ainda é muito visto como uma questão ambiental só”, sublinha.

O desafio do Papa passa pelo conceito de ecologia integral. Pela experiência na Casa Velha, Margarida garante que os jovens “estão abertos” a acolher novos estilos de vida mais amigos da natureza e do homem. E não tem dúvidas de que “o ponto de partida certo para este pensamento ecológico é este: é sentirmo-nos parte de uma história maior e responsáveis uns pelos outros, não apenas pela terra que ocupamos e em que vivemos, ou pela nossa família ou comunidade, mas percebermos que estamos interdependentes de uma família humana”.

“O que é que é isto de sermos irmãos uns dos outros? Só se nos sentirmo-nos parte é que podemos pensar responsavelmente toda a nossa vida, que passa muito pelo consumo, por decisões. Por isso toda esta questão da economia ganha um sentido novo a partir do momento em que os jovens se sentem com um novo olhar e uma nova possibilidade de intervir no seu dia-a-dia, repensando o seu estilo de consumo, as suas relações. É por aí que a economia vai mudar”, assegura.

Aos 25 anos Manuel Tovar é o responsável pela ASSEGE Next de Coimbra. Em 2015 fundou, com mais dois sócios, a ‘The Loop Company’, uma empresa totalmente sustentável e baseada no conceito de economia circular, inovação social e tecnologia. “Quando começámos a promover a reutilização, a compra e venda de livros escolares já utilizados, ainda não tínhamos uma grande consciência daquilo que deveria ser a economia, uma consciência ambiental”, conta, embora já sentissem na altura que havia “um sentido de urgência e de necessidade” em relação ao desperdício dos livros.

“Na altura já havia muito o conceito de sharing economy, pegámos nessas ferramentas e decidimos juntar as famílias que tinham livros em casa com aquelas que necessitavam de livros. Só depois é que nasceu este conceito de economia circular, e vamos percebendo que o nosso esforço não podia representar só uma grande vantagem na área dos livros escolares, mas também noutras áreas, como é o caso agora dos equipamentos de criança que já estamos a reutilizar”, explica.

Como jovem empresário e empreendedor Manuel Tovar diz que se revê no conceito de ecologia integral proposto pelo Papa, em que tudo está relacionado e interligado, e garante que já houve mudanças. “Já notámos uma grande diferença na sociedade portuguesa desde 2015. Na altura o grande argumento para recorrer às nossas plataformas de economia circular era o argumento financeiro, de poupança”. E apesar desse argumento continuar válido, porque continuam a ter uma “preocupação social com as famílias” e com a “redução dos custos com a educação”, entende que hoje já há uma “consciência ambiental mais forte, e o Papa Francisco tem sido um dos principais agentes nesse sentido”.

“Hoje não só as pessoas já não descartam com facilidade, quer os equipamentos de criança, quer os livros, sem pensar que podem ter utilidade para outras pessoas, como também as organizações, as empresas e o Estado estão mais preocupados com esta realidade da economia circular, e em contribuir de alguma forma. Portanto já não nos sentimos tão sozinhos”, afirma.

Mas, apesar das preocupações ambientais estarem hoje no discurso de toda a gente, o desafio do Papa é mais vasto, ao propôr que a salvaguarda do meio ambiente não seja dissociada da economia e da garantia de justiça social para todos. Será que do encontro de Assis sairão as bases seguras para que isso aconteça? Para Margarida Alvim “há uma base segura de começo”, já a pensar na “formação das futuras gerações de economistas e de gestores que tenham já este pensamento mais aberto e interdisciplinar para a questão de economia, o que é essencial para uma mudança”.

“Claro que os nossos estilos de vida individuais são muito importantes, e toda a transformação começa a partir dessa conversão pessoal, mas há uma conversão maior, como sociedade, que precisa muito de modelos económicos que sejam, de facto, inclusivos e integrais”. E acrescenta: “o pensamento económico tem de ser diferente desde logo a partir da universidade”.

Manuel Tovar não irá a Assis, mas tem estado a participar no curso sobre ‘A Economia de Francisco’ e garante que “há um grande entusiasmo” entre a comunidade de jovens profissionais, gestores e empresários, e vai ser importante a ACEGE conseguir “no passo seguinte a esta reunião, manter, juntar e manter motivadas estas pessoas que agora se comprometeram para que este espírito e esta economia integral possa alastrar às várias organizações onde estamos inseridos”.

O Papa pede aos jovem que sejam construtores de um modelo diferente de economia, “que traga vida e não morte", que "seja inclusiva e não exclusiva", que "se preocupe com ambiente em vez de o espoliar". Manuel Tovar acredita que vai ser possível responder ao desafio. “Claro que sim”, até porque nos últimos dois anos já se tornou óbvio para todos que tem de se cuidar da natureza e dos recursos ambientais “não só para esta geração, mas para as gerações futuras”.

O novo espaço de colaboração da Renascença com a Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE) sobre o encontro “A Economia de Francisco” é emitido todas as terças-feiras, depois das 13h00. Até 26 de março vamos analisar as propostas da Igreja e do Papa Francisco com a ajuda de diversos protagonistas.
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