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Eutanásia. "É preciso esclarecer conceitos mesmo entre profissionais de saúde"

19 fev, 2020 - 09:26 • Isabel Pacheco

O aviso parte de dos próprios médicos que, à Renascença, garantem que a eutanásia “não é resposta ao sofrimento” e alertam para os perigos de se optar pelo facilitismo.

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José Miguel Lopes é coordenador da equipa de cuidados paliativos da unidade local de saúde do Alto Minho. Em sete anos foi confrontado por três vezes com pedidos para morrer. O mais recente foi o de uma jovem deprimida.

“Queria acabar com tudo e, ao mesmo tempo, com medo de tudo o que aí vinha. Lembro-me de lhe dizer que, com o determinado ajuste terapêutico, tudo poderia mudar e que mais à frente falaríamos do assunto. Tive de ajustar a medicação anti- depressiva e passadas umas semanas saiu à rua com a família e disse-me: ‘sim, claro que vale a pena’”, recorda o médico.

É a esta história de vida que o médico se agarra para explicar porque acredita que a despenalização da eutanásia “não é resposta ao sofrimento”, mas um risco para o “facilitismo”.

“O meu receio é que, mesmo socialmente, haja uma facilitação e perante as situações difíceis não reste outra alternativa que não pedir para morrer”, alerta o especialista.

Mas há outras questões que se levantam: “fala-se que uma pessoa deprimida não é capaz de ter autonomia para pedir para morrer. E uma pessoa em sofrimento para a qual não foi dada resposta adequada, é capaz de decidir? Os projetos de lei falam que os doentes precisam de ser observados por um psiquiatra. E porque não por uma equipa de cuidados paliativos?”, questiona o clínico.

Às dúvidas de José Miguel Lopes junta-se “o desconhecimento geral em termos de clarificação de conceitos”, “mesmo, entre os profissionais de saúde”, acrescenta Paula Felgueiras.

A médica do hospital de Viana do Castelo lamenta que poucos saibam a distinção entre “o que é a eutanásia, distanásia ou o suicídio assistido”. É um assunto sobre o qual “não se fala” entre colegas. “É um tabu”, remata.

Para a profissional de medicina interna, ligada ao Centro de Estudos de Bioética, criado pela Pastoral da Saúde da diocese local, está-se a “desviar a atenção” do que importa: o “desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde”.

“Se calhar, ao estarmos focados nesse tema [eutanásia] esquecemos tudo o resto”, lamenta a médica, que admite não entender “como é possível propor algo tão súbito sem antes dar a oportunidade de acesso e melhores cuidados paliativos”.

Os projetos de lei que propõem a legalização da eutanásia vão a debate no Parlamento no dia 20 de março.

Na quarta-feira, alguns deputados do PSD anunciaram que vão avançar com uma iniciativa de referendo. A Conferência Episcopal Portuguesa também já defendeu a realização de uma consulta popular sobre o tema.

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