Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Coronavírus afasta voluntários. Instituição sozinha pelas ruas de Lisboa a alimentar sem-abrigo

25 mar, 2020 - 15:47 • Dina Soares

Em Lisboa, os voluntários que todas as noites costumavam distribuir nas ruas alimentos pelas pessoas sem-abrigo quase desapareceram. Só que, quem vive na rua continua lá. A Comunidade Vida e Paz mantém a distribuição de refeições, mas como a procura duplicou, pede ajuda para que ninguém fique com fome.

A+ / A-

Veja também:


A Comunidade Vida e Paz está, neste momento, sozinha na distribuição de alimentos a quem vive nas ruas de Lisboa. A instituição, que costumava servir 430 refeições por noite, está agora a entregar 800. Esta carência deve-se à pandemia de Covid-19 e às instruções dadas pelas autoridades para que as pessoas fiquem em casa. As outras organizações que costumavam fazer este trabalho retiraram-se do terreno devido à falta de voluntários.

Os primeiros sinais surgiram há uma semana. Nuno Fraga, voluntário da Comunidade Vida e Paz, saiu para fazer a sua volta e encontrou um cenário desolador: “Em Lisboa, onde existirão cerca de 400 pessoas em situação de sem-abrigo, existia também um número considerável de instituições que iam mitigando as carências. Hoje só há uma, estamos a regressar o passado. Hoje, vi fome em Lisboa.”

Nessa noite, Nuno Fraga e a sua equipa tiveram que entregar 90 refeições no Saldanha, onde costumam servir 30. Em Santa Apolónia, onde habitualmente encontram 15 a 20 pessoas, encontraram 40. O mesmo aconteceu no Rossio e na Estação do Oriente.

Para que a comida chegasse para todos, cada refeição foi dividida em três e mesmo assim, não foi suficiente. “As pessoas corriam desesperadamente para as carrinhas em busca de algo. Tivemos pedidos para não as deixarmos, pois não teriam mais nada se não viéssemos”, revela este voluntário.

Há quem cozinhe, mas não há quem distribua

Algumas instituições continuam a servir as pessoas sem-abrigo ou as mais carenciadas, mas não distribuem refeições na rua. É o caso da Associação João 13, que funciona em instalações cedidas e equipadas pela Câmara Municipal de Lisboa, prestando um apoio diferenciado em relação ao que é dado na rua.

A própria Comunidade está a receber ajuda de duas outras instituições, a Norfátima e a Associação Casa, que fornecem refeições cozinhadas. Mesmo assim, continuam a precisar de mais doações. “Muitos pessoas e várias empresas têm colaborado com o envio de alimentos que nos têm permitido alimentar toda a gente” – disse à Renascença Tânia Antunes, da Comunidade Vida e Paz.

“No entanto, se o estado de emergência se prolongar por muito tempo, este serviço só pode continuar se as doações aumentarem.”

Os voluntários da Comunidade Vida e Paz têm mantido a sua ação, permitindo a habitual realização de quatro voltas por noite. “Só que, em vez de equipas de oito ou nove pessoas, estão agora a trabalhar com equipas de três ou quatro. Uma forma de tentar preservar quem ajuda”, explica Tânia Antunes.

Sem-abrigo perderam todos os recursos

Para agravar a situação, as pessoas em situação de sem abrigo estão agora privadas das poucas fontes de rendimento que costumavam ter em tempos normais.

“Num dia normal arrumariam uns carros, teriam uns trocos, os cafés ou os restaurantes ofereceriam uma refeição. A vizinhança iria à rua e aproveitaria para dar uma ajuda”, refere Nuno Fraga. Neste momento, com a maioria da população fechada em casa, nada disso é acontece.

Tânia Antunes deixa ainda um apelo. a instituição precisa de equipamento de proteção pessoal, como máscaras, luvas, desinfetantes, mas também de bens alimentares: leite, iogurtes, recheios para sandes, enlatados, cereais, fruta, legumes, massa, arroz, feijão, entre outros. “As encomendas devem ser feitas online e entregues na sua sede.”

[notícia atualizada às 18h40]

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Manuela
    26 mar, 2020 20:14
    Façam casas na Fonte da Telha e ponham lá os sem abrigo! gastaram dinheiro a destruir casas, que agora fazem falta! Lá não lhes falta comer, porque os pescadores não deixam que isso aconteça! Acordem pessoal... está na hora de tomarem consciência das coisas!!! Os sem abrigo precisam de casas! Aquilo tornou-se num sítio abandonado! então remedeiem o mal que fizeram. Façam uma boa acção, porque Deus ajuda, quem ajuda os outros! Eu dou o espaço da minha casa que me tiraram, paguei o terreno... e paguei multa por construir a casa (140) vejam na planta e dêem a quem mais precisa.

Destaques V+