26 mar, 2020 - 21:01 • Ana Carrilho
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Cerca de 80% da atividade económica de Fátima e Ourém gira à volta do turismo e dos peregrinos que chegam dos cinco continentes. Por isso, a Covid-19 está a ter um impacto muito significativo na zona.
Praticamente toda a hotelaria fechou, ainda antes da declaração do estado de emergência pelo Presidente da República, a 18 de março, porque já aí não havia clientes.
Alexandre Marto Pereira, CEO do Grupo Fátima Hotels, garante à Renascença que os hotéis estão a fazer os possíveis por manter os postos de trabalho efetivos, mas os contratos a termo não vão ser renovados nem haverá lugar ao reforço da mão de obra temporária que ocorria normalmente nesta altura. Por isso, pede ao Governo medidas simples, rápidas e operacionais.
Quanto às linhas de crédito, considera que são positivas, mas defende juros mais baixos e prazos alargados para pagar a dívida. Caso contrário, ressalta, muitas empresas não conseguirão resistir.
Todos os dez hotéis agregados no Grupo Fátima Hotels estão fechados há várias semanas porque não há clientes. O mesmo acontece com quase todos os outros, restauração e comércio. Fátima foi um dos destinos mais sacrificados logo no início da crise, diz Alexandre Marto Pereira, CEO da empresa responsável pela promoção e comercialização destas unidades hoteleiras, a maior parte delas familiares e que agregam cerca de mil camas.
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A explicação é simples: um dos principais mercados de Fátima nos últimos anos é a Coreia do Sul. Ocupa o 3.º-4.º lugar no ranking de turistas estrangeiros e é, de longe, o mercado mais importante no primeiro trimestre. Assim que a crise se declarou na Ásia, as reservas dos coreanos foram caindo até zero, “em dias desapareceram”. Seguiram-se as de alguns europeus, nomeadamente italianos, neste momento o país mais duramente atingido pela pandemia de Covid-19.
O empresário diz que janeiro não foi bom, fevereiro correu mal, com quebras de 30-40% e, em março, foi o descalabro, à volta de 90%.
Para a frente, “já temos 20 mil noites canceladas em abril e outras tantas em maio mas o número pode aumentar”. Para junho e julho está tudo na expectativa do que vai acontecer no mundo, o que vai acontecer com as viagens, as companhias aéreas, a situação económica e de saúde pública, em Portugal e nos outros países. “Ainda é uma incógnita mas estamos muito pessimistas”, desabafa Marto Pereira.
Alexandre Marto Pereira garante que até agora os hotéis têm feito “um esforço enorme para acomodar os prejuízos”. A maior parte são pequenas unidades, em que os membros da família também fazem parte dos recursos humanos e para quem a decisão de encerrar, foi muito dura.
“São necessários nervos de aço para não despedir pessoas e salvaguardar os postos de trabalho”, desabafa o empresário à Renascença. Diz que percebe a enorme pressão a que o Governo está sujeito e que a legislação não pode ser feita de ânimo leve porque as repercussões para o país são enormes, mas apela à adoção de medidas “simples, rápidas e operacionais”, que respondam às necessidades das empresas para manterem a atividade depois da crise e os empregos.
Para Marto Pereira, o lay-off simplificado para evitar despedimentos "é uma boa ideia", mas por enquanto não está a funcionar.
“Aqui em Fátima a situação é desesperante porque estamos com problemas há meses e não conseguimos concretizar o lay-off por questões burocráticas.”
Segundo o decreto aprovado pelo Governo, para ter acesso a este regime as empresas têm de apresentar quebras na faturação superiores a 40% nos últimos dois meses, em relação ao mesmo período do ano passado.
Quanto às linhas de crédito, são um “balão de oxigénio” para muitas empresas, mas ao mesmo tempo “uma maçã envenenada”: as taxas de juro são altas e os prazos para o pagamento da dívida muito curtos.
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Por isso, o empresário defende a criação de linhas de crédito com juros mais baixos e prazos de pagamento mais alargados: 20, 30, 40 anos.
“Não um perdão da dívida, mas a possibilidade das empresas acomodarem o esforço ao longo de muitos anos. Existem moratórias mas caso os balanços das empresas tenham passivos cada vez maiores, quando a crise terminar, terão uma dívida tão pesada às costas que não conseguirão resistir”, alerta.
Cerca de 80% do comércio de Fátima e do concelho de Ourém está associado ao turismo religioso e Purificação Reis, presidente da ACISO – Associação Empresarial Ourém-Fátima – revela à Renascença que, nos últimos tempos, têm sido muitos os pequenos empresários a dar conta das grandes dificuldades que já estão a passar.
Querem obter informação sobre as medidas de apoio mas, em muitos casos, dificilmente terão condições de lhes aceder. “O encerramento de empresas e despedimentos são inevitáveis”, deduz.
Para já, a generalidade das empresas mantém os trabalhadores efetivos em diferentes modalidades. Alguns pais estão em casa para dar assistência aos filhos, outros – com ou sem acordo – estão de férias, outros em teletrabalho. “Mas na hotelaria e restauração não funciona”, indica.
Os contratos a termo não estão a ser renovados e os trabalhadores temporários que costumavam ser contratados nesta altura para reforçar as necessidades da época alta de Fátima, sobretudo na hotelaria e restauração, também não vão ser chamados.
Purificação Reis confessa-se incapaz de prever o real impacto desta pandemia Covid-19, mas será certamente “significativo a nível económico e social”.