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Não vão ser mais de dois mil os peregrinos no Caminho Português de Santiago

19 mai, 2020 - 11:30 • Hugo Monteiro

A estimativa é das associações do Caminho que lembram que, no início do ano, estimava-se que seriam mais de 100 mil os peregrinos a percorrer a rota portuguesa rumo a Santiago de Compostela. No pós-pandemia não serão mais de dois mil. O Caminho “vai ter de se reinventar” para receber “o novo peregrino”. Lado positivo? Acabou a massificação e voltou o espírito do Caminho.

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No cenário mais otimista, este ano, só dois mil peregrinos irão fazer o Caminho Português de Santiago. A estimativa é avançada pelo presidente da Federação Internacional das Associações de Amigos do Caminho Português de Santiago (FIACPS).

Em entrevista à Renascença, Celestino Lores sublinha que “este ano, deveriam chegar mais de 100 mil peregrinos a Santiago de Compostela, através do Caminho Português, depois de, no ano passado, terem chegado 95 mil”.

“Mas isso já é impossível”, lamenta, pelo que “se chegarem dois mil, já é muito”. Com a pandemia “perdemos todo esse movimento e a progressão no número de peregrinos no Caminho Português e, agora, temos de começar outra vez do zero”, desabafa o responsável da FIACPS.

Por estes dias, os Caminhos estão vazios. As ruas e praças de Santiago de Compostela começam, lentamente, a ser reocupadas pelos habitantes da cidade, mas desapareceram os peregrinos de todo o mundo e as suas mochilas e bastões.

A normalidade só deverá chegar “lá pela Páscoa de 2021”, prevê Celestino Lores. As associações do Caminho acreditam que os peregrinos vão regressar à estrada e aos trilhos em plena natureza assim que as fronteiras reabrirem. Celestino gostava de os ver a caminho de Santiago “em meados de Julho, por altura da festa do Apóstolo”.

Em resposta à Renascença, o Governo da Galiza diz que “o regresso à normalidade no Caminho de Santiago depende do fim das limitações de mobilidade e da abertura das fronteiras”. No entanto, o Governo galego garante estar “a trabalhar com o objetivo de minimizar os impactos e recuperar o mais rapidamente possível a normalidade”, pelo que assume estar “confiante de que no Verão será possível assistir ao regresso dos peregrinos”.

Caminho reinventa-se para o “novo peregrino”

Além de serem menos os peregrinos, as próprias peregrinações vão ser diferentes. O necessário distanciamento social “vai mudar a forma de peregrinar. Não vai ser possível caminhar em grandes grupos. Vão ser peregrinos sozinhos ou em grupos de dois ou três amigos”, antecipa Nuno Pontes, da Associação Espaço Jacobeus.

Para receber este “novo peregrino”, o Caminho vai ter de se “reinventar”, diz Lúcio Lourenço, responsável do Albergue Cidade de Barcelos. As novas realidades que a COVID-19 trouxe “tornam tudo muito complicado, porque uma das vertentes essenciais do Caminho é a proximidade social entre pessoas, povos e nacionalidades”.

O Caminho vai ter de se adaptar e “continuar a ser Caminho”. “Até porque o Caminho já sobreviveu a outras epidemias e a guerras e também agora não vai acabar”, sublinha.

Botas ficam “à porta”

Lúcio Lourenço lembra que a segurança sempre foi uma das características e um atrativo do Caminho e, quando os peregrinos regressarem, vão ter de sentir que estão seguros. Para isso, há que preparar os albergues para os acolherem.

As normas ainda estão a ser definidas, mas é já certo que estes locais vão ter de cumprir as regras de distanciamento social e segurança sanitária. O processo está mais avançado em Espanha do que em Portugal, com os albergues nacionais ainda a tentarem perceber de que forma poderão adaptar-se ao que vai sendo definido para os alojamentos locais.

“Primeiro, é preciso garantir equipamentos de proteção individual para os próprios hospitaleiros”, lembra o responsável pelo Albergue Cidade de Barcelos. “Depois, o calçado, de preferência, nem deve entrar nos albergues ou, então, as botas têm de ser desinfetadas à entrada. Não haverá roupa para as camas. As cozinhas e espaços comuns vão estar fechados. E, depois, vai haver um corte substancial na capacidade dos albergues”.

Será uma redução “de 70% a 80% da capacidade de acolhimento”, com apenas “as camas inferiores dos beliches a serem utilizadas e com, pelo meno,s uma cama de intervalo , vazia, nas camaratas”, descreve Lúcio Lourenço.

As novas regras vão fazer aumentar as despesas. "Nnaturalmente irá fazer subir o preço” da estadia nestes epsaços, nota Nuno Pontes, da Associação Espaço Jacobeus.

As perspetivas não são animadoras para os albergues, principalmente para os privados. É os caso do Albergue de Peregrinos do Porto. Quando a pandemia obrigou ao encerramento das fronteiras, este albergue privado estava a terminar as obras para abrir um segundo piso para acolhimento de peregrinos. Por um lado, as despesas aumentaram, mas há mais espaço para garantir o necessário distanciamento. Apesar de “ser tudo um incerteza”, o responsável, Óscar Miguel, diz que o pior seria não reabrir.

“Sei de albergues espanhóis que já tiveram de fechar portas. Por cá, acho que ainda não. Mas tudo depende por quanto tempo se vai prolongar. Mas este será um ano perdido. Se para o ano houver condições para a retoma, penso que tudo ficará bem, mas, se tal não acontecer, não será suportável."

Na resposta enviada à Renascença, o Governo da Galiza revela ainda estar “a analisar o impacto da atual crise sanitária no Caminho, em colaboração com a Universidade de Santiago. O diagnóstico da situação estará concluído no prazo de um mês, o que vai permitir adaptar o Xacobeo 2021 (ano santo compostelano) ao cenário pós-Covid-19”.

“Há três meses discutíamos a massificação do Caminho…”

Lúcio Lourenço reconhece as dificuldades económicas que advêm de vários meses sem peregrinos rumo a Santiago, mas defende que “este é um bom momento para o Caminho se repensar".

"No início do ano, discutia-se a massificação. Havia muita gente e o espirito do Caminho estava a perder-se. Estava a tornar-se um produto turístico e as associações queixavam-se disso”. Surgiu a pandemia e ”em 15 dias, toda a discussão acabou, porque, simplesmente, não há pessoas no Caminho”.

Também Celestino Lores vê uma consequência positiva da pandemia para o Caminho. “Há três meses, tínhamos duas preocupações. Por um lado, era a massificação do Caminho Português de Santiago. Ora, essa massificação acabou… Já não há”. Uma segunda preocupação “era a perda de valores do Caminho. E eles foram recuperados”.

Com a pandemia “se há algo que passou a ser valorizado foi a amizade, a solidariedade e a liberdade. E esses são, precisamente, os valores do Caminho”. “Vamos voltar ao Caminho e viver esses valores” diz.

Comentários
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  • 19 mai, 2020 13:19
    O sector privado " esta muito pior que o sector publico! Tudo o que vem do publico poupem!

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