25 mai, 2020 - 12:46 • Henrique Cunha
A Comissão Nacional Justiça e Paz mostra-se chocada com possibilidade de atribuição de prémios de gestão no Novo Banco. Numa nota enviada à Renascença, a estrutura alerta para o facto de que é necessário ter presente “que nem tudo o que é legal é legítimo".
A Comissão pede "esforços partilhados" para que "as desigualdades não se agravem" e refere que “causa perplexidade e escândalo” a notícia de que um banco privado com apoios do Estado possa “vir a atribuir prémios de gestão” que implicam “uma ordem de grandeza de tal modo elevada que choca pela disparidade face à média das retribuições do trabalho em Portugal”.
A nota começa por referir que "o nosso país, como o mundo inteiro, vê-se hoje confrontado com uma crise económica e social de uma gravidade sem precedentes", uma crise que se traduz "para muitos, em desemprego, perda total ou muito substancial de rendimentos e privação da satisfação de necessidades básicas, como a alimentação".
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A Comissão Nacional Justiça e Paz lembra que as "desigualdades que já anteriormente marcavam a nossa sociedade tendem a agravar-se, pois, como revelam vários estudos, são os mais pobres quem, de um modo geral, mais sofre com esta crise". E vai mais longe ao garantir que "a crise não atinge todos por igual e há quem não sofra perdas substanciais de rendimentos", para sugerir que "a estes é pedido um esforço de solidariedade, também ele sem precedentes, que permita minorar os seus efeitos".
E é perante este contexto, que a Comissão Nacional Justiça e Paz sublinha que "causa legítima perplexidade e escândalo a notícia de que um banco privado" que recorre a fundos do Estado possa vir a atribuir prémios que "implicam uma ordem de grandeza de tal modo elevada que choca pela disparidade face à média das retribuições do trabalho em Portugal".
Para a Comissão Nacional Justiça e Paz "esta situação, e outras semelhantes, em matéria de política de retribuições ou de distribuição de dividendos de que ficam excluídos os trabalhadores" contrastam "flagrantemente com os esforços de solidariedade que a atual situação reclama".
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"Há que ter presente que nem tudo o que é legal é legítimo. E há que demonstrar que a responsabilidade social das empresas tem exigências de coerência e não pode confundir-se com um simples instrumento de promoção de imagem"; refere ainda a Nota que termina com uma afirmação do Papa Francisco, quando lembrou que nesta crise "estamos todos no mesmo barco e ninguém se salva sozinho".
"A coesão social é necessária, hoje mais do que nunca. Só a partilha equitativa dos esforços que nos são exigidos garante essa coesão", conclui a Comissão Nacional Justiça e Paz.