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​Regresso das celebrações comunitárias. “Vai ser uma emoção”

26 mai, 2020 - 14:40 • Rosário Silva

A Renascença entrou na casa da família Placas, de Évora, e recolheu o testemunho de quem viveu a quarentena sem descurar a parte espiritual. O Pedro, a Fernanda, e os filhos, Ana Sofia e Luís, aguardam, ansiosos, o regresso à paróquia já no próximo domingo.

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Em casa da família Placas contam-se os dias para o regresso às celebrações comunitárias já no próximo domingo. Para trás ficam dois meses de recolhimento aproveitados pela família para fortalecer laços afetivos.

“Sim, os nossos laços ficaram muito mais fortes”, reconhece Fernanda, enfermeira de profissão. “Preparei-me psicologicamente e preparei os de casa para um dia ter que ir para o trabalho e não poder voltar”, recorda esta esposa e mãe, de 50 anos.

Felizmente, tudo correu pelo melhor e, como família cristã, responsável por diversas atividades pastorais, esta paragem forçada foi utilizada para, em conjunto, crescerem na fé.

“Fizemos coisas que, se não fosse esta quarentena, nunca faríamos”, admite, Fernanda. “A Páscoa, na nossa família, por exemplo, foi celebrada com todos os desafios que a Igreja nos propôs, desde fazermos a cruz, de a colocarmos à janela, assistimos os quatro às celebrações pascais pela televisão e, na quinta-feira Santa, até fizemos o lava-pés em família”, conta à reportagem da Renascença.

“Em termos de fé, uniu-nos. Como dizia a Sofia, íamos à missa, mas já era uma rotina, e em casa, não rezávamos em família, e isto permitiu que olhássemos mais para nós e nos aproximássemos”, acrescenta a enfermeira.

A Ana Sofia é a filha mais velha do casal. Tem 23 anos, é psicomotricista de profissão e teve que suspender o projeto em que estava envolvida, devido à pandemia.

“Foi bom, pois deu para parar um bocadinho, respirar e refletir, e isso também nos ajudou enquanto família, uma vez que algumas das nossas atividades pastorais já eram feitas de forma rotineira”, diz-nos a jovem. Ela é uma das dinamizadoras do coro na paróquia onde pertence, catequista e integra as equipas dos Convívios Fraternos, além de animar grupos de jovens.

Mais dificuldade em adaptar-se ao confinamento, por ser muito ativo, o Luís Placas, de 19 anos, aproveitou para dinamizar e até surpreender a família com celebrações que preparou.

“A que mais me marcou foi o 12 e 13 de maio”, adianta o jovem técnico de multimédia e acólito na paróquia. “Pedi à minha avó umas flores, umas pétalas de rosa para decorar um altar que preparei com a imagem de Nossa Senhora. Nesse dia, jantámos mais cedo, para podermos acompanhar a transmissão do terço. Preparei quatro velas, e desligamos a luz da sala, como se estivéssemos no ambiente do Santuário de Fátima”, recorda, emocionado.

Há dois anos, precisamente nesses dias, participavam, em Fátima, nas celebrações de maio. Foi, por isso, um momento vivido de forma intensa pelos quatro membros desta família eborense. Mas houve outros, como a recitação de uma dezena, num desafio lançado pela diocese de Bragança- Miranda, ou a adesão da mãe Fernanda ao repto das monjas concepcionistas, “Do Convento rezo por Ti”, disponíveis para orar, individualmente, por cada profissional de saúde que assim o desejasse.

“Enviei email e dois dias depois, recebi a indicação de que tinha uma religiosa de clausura, em Viseu”, a rezar por mim”, lembra, comovida, a enfermeira.

“Vai ser uma emoção regressar à casa do Pai”

Nesta casa, faz-se a contagem decrescente para o regresso das celebrações comunitárias. Na paróquia de S. Brás, em Évora, dizem-nos, está tudo preparado para este retorno, tendo em conta todas as recomendações feitas pelas autoridades de saúde, e sublinhadas, em documento próprio, pela arquidiocese de Évora, através do seu arcebispo, D. Francisco Senra Coelho.

O pai Pedro, mais reservado, mas sempre sorridente, acompanha a conversa com a tranquilidade que lhe é característica. Aliás, foi assim desde o inicio da pandemia. “Foi uma paragem radical, mas era necessária por causa da saúde de todos e, desde o inicio, aceitei tranquilo, esta realidade”, afirma o técnico de manutenção.

Nem mesmo o lay-off parcial o faz esmorecer. Com 53 anos, católico assumido, é um dos catequistas da paróquia, onde regressa já no domingo para participar na eucaristia.

“Apesar do nosso desafio, durante todo este tempo, em que estivemos juntos, em família, e foi muito bom, encontrarmo-nos na casa do Pai, é estar com Ele, é diferente”, observa.

“Tenho saudades de olhar para as pessoas, de ver os seus sorrisos, transmitir aquilo que sinto e receber o que têm para me oferecer”, prossegue, por isso, “vai ser uma grande emoção, como se estivéssemos estado em viagem, fora do país e, agora, regressamos a casa.”

A emoção pauta, também, a expetativa de Fernanda que dá consigo a pensar sobre o que vai sentir.

“Acho que vai ser uma emoção. Nós assistimos à eucaristia, em família, pela televisão, mas não é a mesma coisa. Faz falta aquela presença, faz falta o sacrário, faz falta a comunhão, ainda que comunguemos de outra forma, mas não é a mesma coisa”, avança.

Também a Ana Sofia está ansiosa por iniciar as suas funções de animadora no coro. “Tenho saudades de acompanhar as senhoras salmistas. Eu toco violino enquanto elas cantam os salmos. Até tenho saudades do nervoso miudinho de não ter ensaiado o salmo e não saber como vai correr”, confessa-nos.

Saudades, sente também, o Luís, dos seus amigos acólitos. “Fez-me muita falta, pois eu era, sábados e domingos, com catequese e missa, e estar com eles, de novo, vai ser muito bom”, reconhece o jovem que se diz ansioso.

“Até tenho dormido mal a pensar nesse dia”, admite, sorrindo.

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