28 mai, 2020 - 19:27 • Ana Lisboa
O sacerdote e missionário francês Carlos de Foucauld será proclamado Santo, depois do Papa Francisco ter reconhecido um milagre atribuído pela sua intercessão através da assinatura de um decreto da Congregação para as Causas dos Santos.
Por ocasião do centenário da morte deste religioso, em 2016, o Santo Padre já tinha elogiado o seu percurso de vida. Francisco referiu-se a Foucauld como “um homem que venceu tantas resistências e deu um testemunho que fez bem à Igreja. Peçamos que nos abençoe do céu e nos ajude a caminhar nos caminhos de pobreza, contemplação e serviço aos pobres”.
A sua vida deu origem a dez congregações religiosas, entre as quais as fraternidades dos Irmãozinhos e das Irmãzinhas de Jesus, criadas depois da sua morte.
Numa primeira reação, a Irmã Viviana Maria de Jesus, delegada da congregação em Portugal, fala em "muita alegria, não tanto pelo Irmão Carlos ser feito Santo, mas porque a Igreja reconhece também o valor do que ele fez, da sua vida, do que ele viveu ao longo da sua vida".
Fundada pela Irmã Madalena de Jesus em 1939, na Argélia, esta congregação surgiu a partir do exemplo de vida deste Beato.
Aos 23 anos, Madalena descobriu a vida e os escritos de Carlos de Foucauld e encontrou o seu ideal de vida: “o Evangelho vivido, a pobreza total e, sobretudo, o amor”.
Seguindo as pegadas do Beato, rumou à Argélia para viver “como Jesus de Nazaré”, espalhando o Evangelho entre os povos muçulmanos e partilhando com amizade a dureza da vida dos nómadas do Saara.
Foi aí que em 1939 fez a sua profissão religiosa e deu início à Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus, que sonhava com uma congregação de “nómadas e contemplativas”. Dizia que cada fraternidade deveria ser “como a gruta de Belém, uma manifestação da presença de Jesus, um sinal da ternura de Deus, um raio de luz e de esperança”.
Têm como lema “Jesus Amor”, assumindo-O como único modelo e centrando a sua espiritualidade no Evangelho e na Eucaristia.
Partilham o seu dia-a-dia "com os mais pobres para os ajudar a criar condições de vida mais humanas, justas e fraternas”.
As suas fraternidades são como “pequenos oásis onde todos podem encontrar a esperança e o reconforto”.
Por isso, assumem como missão “levar Jesus fora das suas próprias fronteiras, alargando sempre o horizonte aos lugares de fraturas humanas de marginalidade e exclusão”.
Vivem "uma vida contemplativa, uma vida de amizade com o Senhor no meio do mundo, sobretudo no meio dos mais pobres", afirma a irmã Viviana. E acrescenta: "a nossa missão é a mesma que o irmão Carlos: criar amizade com as pessoas e ajudá-las na medida do possível como um vizinho pode ajudar outro vizinho".
Presentes em 65 países dos cinco continentes, chegaram também a Portugal em 1952, integrando-se no Casal Ventoso, um bairro lisboeta marcado pela extrema pobreza e marginalidade.
Neste momento, estão presentes em três locais: Chelas, Apelação e Fátima, num total de cerca de 12 Irmãs. Não vestem hábito, são apenas identificadas por uma pequena cruz de madeira que trazem ao peito.
Nascido em Estrasburgo a 15 de setembro de 1858, o religioso empreendeu em 1883 uma expedição ao deserto de Marrocos. Três anos depois converteu-se ao catolicismo e foi ordenado sacerdote em 1901, tendo decidido partir para o deserto argelino, perto da fronteira com Marrocos. Aí, acompanhou militares junto dos Tuaregues, um povo nómada e hostil aos franceses. Realizou um intenso trabalho missionário baseado no diálogo com o Islão e na luta contra a escravidão.
Foi sequestrado por um grupo de rebeldes e assassinado a 1 de dezembro de 1916, na Argélia, onde viveu como eremita. Tinha 58 anos.
Depois da sua morte foi considerado um mártir e nos anos seguintes a sua memória passou a ser venerada. Ao mesmo tempo, a sua biografia publicada em 1921 por René Bazin tornou-se um best-seller.
O seu processo de beatificação começou em 1927, tendo sido interrompido durante a guerra da Argélia.
Posteriormente foi retomado e Carlos de Foucauld foi declarado venerável em 24 de abril de 2001 pelo Papa João Paulo II.
Foi beatificado a 13 de novembro de 2005, na Basílica de S. Pedro, no Vaticano, pelo cardeal português D. José Saraiva Martins, então prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, no pontificado de Bento XVI.