31 mai, 2020 - 12:31 • Olímpia Mairos
A emoção marcou o regresso das eucaristias na igreja matriz de Chaves. Os fiéis vão chegando espaçadamente, mas vêm em passo apressado. De máscara no rosto, são acolhidos à porta pela equipa de escuteiros, responsável pelo acolhimento. Desinfetam as mãos e são acompanhados até ao lugar onde devem sentar-se.
Os lugares estão assinalados com círculos verdes. Em cada banco só podem sentar-se uma ou duas pessoas, garantindo assim a distância recomendada.
Enquanto o coro, de apenas três pessoas a contar com o organista, prepara os cânticos para a eucaristia, as pessoas rezam em silêncio.
À hora certa, o sacerdote entra e dirige-se para o altar. Vem de máscara. Nas primeiras palavras que dirige aos fiéis, percebe-se na voz a emoção. “Sede bem-vindos de novo. E a primeira palavra é de alegria, alegria por nos podermos encontrar, para podermos celebrar comunitariamente”, diz aos fiéis, com a voz embargada, o padre Hélder Sá.
Depois, o pároco de Santa Maria Maior manifesta a sua solidariedade para com aqueles que “perderam algum familiar neste tempo e não pôde ter um funeral normal” e agradece o “comportamento responsável que se tem verificado” para evitar a propagação da Covid-19.
“Estar sem missa foi um grande pesadelo”
Apesar de registarem o desconforto da máscara e a estranheza de uma igreja “quase vazia com uma pessoa em cada ponta do banco”, os cristãos manifestam-se felizes pelo regresso da eucaristia.
“É uma alegria muito grande voltar a celebrar a fé”, diz à Renascença Lina Martins de 69 anos, realçando ser este um momento “muito especial”. “É a satisfação de algo muito importante que não era cumprido de outra maneira, na sua totalidade, pois faltava a sagrada comunhão”, explica.
Para Conceição de Lurdes, de 88 anos, vir “à eucaristia significa tudo”. “Sem isto não sou nada. E Deus Nosso Senhor quis que viéssemos hoje outra vez, estou muito feliz”, diz, contando que das coisas que mais lhe custou neste tempo foi “ficar sem missa e ver morrer um irmão sem ter funeral”.
“Mas agora estamos aqui e, apesar de a máscara ser incomodativa, prefiro este sacrifício ao sacrifício de ficar sem missa”, reforça.
Também Francisco Rodrigues, de 76 anos, não esconde a alegria por voltar a celebrar a fé em comunidade.
“Estar sem missa foi um grande pesadelo, esperava ansiosamente por este dia”, diz, acrescentando que “desde o berço” participa na eucaristia e que, por isso, “não celebrar a fé foi mesmo, mas mesmo muito difícil”.
Daniela Grilo, 23 anos, revela a alegria em “voltar a entrar na igreja e reviver este simbolismo”.
“Senti-me mais igreja. É muito diferente estar aqui do que estar em casa a assistir pela internet. Toda a envolvência da igreja é importante na celebração da fé”, explica.
Daniela assume que “com este calor não é fácil vir de máscara”, mas considera que é importante para cuidar da saúde de todos. “Temos que nos adaptar às novas regras e tomar consciência que a nova vivência vai ser assim, por muito tempo”, diz.
Também para Ana Cunha, de 26 anos, “celebrar em comunidade foi uma grande alegria” e a eucaristia de Pentecostes vai ficar marcada para sempre.
Ana é acólica na paróquia e conta que ela e todos os outros acólitos têm saudades de servir ao altar. É que mesmo com o regresso das eucaristias o serviço vai manter-se suspenso como medida de precaução.
“Celebrar em comunidade é já uma grande coisa”
Portugal está desde 3 de maio em situação de calamidade por causa da pandemia, mas o Governo tem aprovado sucessivas medidas de desconfinamento, estando, a partir do último sábado, autorizado o regresso das cerimónias religiosas comunitárias.
Embora com várias alterações, como o distanciamento, o uso de máscara, a desinfeção, a ausência de saudação no momento da paz ou a distribuição da comunhão aos fiéis nos lugares onde se encontram, os cristãos manifestam a alegria por voltarem a reunir-se e a celebrar como comunidade.
As pessoas com mais de 65 anos ou com problemas de saúde são aconselhadas a assistir às celebrações através de meios alternativos, como a rádio ou a internet, ou optar por horários menos frequentados.
A Paróquia de Santa Maria Maior, em Chaves, vai continuar a transmitir a eucaristia dominical das 10 horas, através da internet. E o pároco, padre Hélder Sá, tranquilizou os fiéis, idosos ou de risco, afirmando que podem ficar de “consciência tranquila, porque, seguindo a eucaristia cumprem o seu preceito dessa maneira”.
Para aqueles que preferirem participar na eucaristia a partir do exterior da igreja foram colocadas colunas sonoras.