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Mirandela

Corpo de Deus na aldeia de Pereira. ​“Este ano é Nosso Senhor que passa pelo meio do povo”

09 jun, 2020 - 11:21 • Olímpia Mairos

D. José Cordeiro, bispo da Diocese de Bragança-Miranda, preside à eucaristia e procissão do Corpo de Deus. Os fiéis de fora “não devem deslocar-se à aldeia, porque é um ano singular, é um ano diferente” e a celebração será mais restrita, devido à Covid-19.

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Pereira, uma aldeia do concelho de Mirandela, na Diocese de Bragança-Miranda, com 7,50 km² de área e pouco mais de uma centena de habitantes, não fosse este um ano atípico, esperaria as suas ruas repletas de pessoas para honrar a passagem do Senhor Jesus Sacramentado. Aqui a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é vivida com grande devoção.

Os tapetes de flores, artisticamente elaborados pelos moradores não vão faltar, mas a chuva de pétalas será menos intensa. A chamada aldeia eucarística de Pereira, vai viver, este ano, devido à pandemia, a solenidade do Corpo de Deus, de uma forma diferente.

“Este ano temos que acatar as normas e as regras que nos propõem, no entanto, não deixamos de fazer a procissão, porque, além de ser uma manifestação pública da nossa fé, trata-se do Santíssimo Sacramento. E essa é que é a base da vida cristã”, explica à Renascença o padre Tiago Alves.

O pároco da aldeia de Pereira conta que vão “reduzir ao número de estandartes, outros objetos, como flores e algumas coisas que colocavam também pelos caminhos, e que serão reduzidas ao mínimo”.

Na procissão seguirá a “santa cruz à frente, a cruz paroquial, ladeada por duas lanternas, um estandarte que remete para a paróquia do Santíssimo Sacramento e irá o senhor bispo com a custódia, acompanhado por um elemento que irá levar a umbela e depois seguem os sacerdotes”, explica o padre Tiago Alves.

As pessoas são convidadas à adoração e à veneração ao Santíssimo Sacramento desde as suas casas ou a partir do adro da igreja.

“As pessoas, por onde passa o cortejo do Santíssimo Sacramento, estarão em suas casas. Aquelas que moram noutro canto da comunidade ficarão no adro da igreja para poderem fazer a sua veneração, sem esta manifestação acompanharem”, explica o sacerdote, frisando que “este ano não há acompanhamento. Este ano é Nosso Senhor que passa pelo meio e faz-nos lembrar a arca da aliança passou pelo meio do povo”.

A eucaristia vai ser transmitida através do Facebook da Zona Pastoral de S. Bento, para chegar “a um número grande de pessoas, nomeadamente as circunvizinhas de Pereira, que não devem deslocar-se à aldeia, porque é um ano singular, é um ano diferente”, conclui o padre Tiago Alves.

A solenidade litúrgica do Corpo de Deus começou a ser celebrada há mais de sete séculos e meio, em 1246, na cidade de Liège, na Bélgica, tendo sido alargada à Igreja latina pelo Papa Urbano IV, através da bula “Transiturus”, em 1264, dotando-a de missa e ofício próprios.

A Portugal, a solenidade terá chegado provavelmente nos finais do século XIII e tomou a denominação de Festa de Corpo de Deus, embora o mistério e a festa da eucaristia, seja o Corpo de Cristo.


“O grande filão da nossa história está aqui, na aldeia de Pereira”

A aldeia de Pereira, no concelho de Mirandela, é aldeia eucarística da Diocese de Bragança-Miranda. Um título concedido pelo então bispo de Bragança-Miranda, D. António José Rafael tendo em conta que naquela aldeia “a solenidade do Corpo e Sangue do Senhor sempre teve uma grande importância”, explica a irmã Maria José Oliveira.

A vigária geral da Congregação das Servas Reparadoras de Jesus Sacramento recua ao ano 1888 para contar que foi “nesse ano em que nasceu Alzira da Conceição Sobrinho, mulher que tem na história desta aldeia e da própria diocese uma força muito grande”.

“Desde os primeiros anos, Alzira teve uma devoção muito especial pela eucaristia e isso foi-se intensificando ao longo da sua juventude, tanto é que no ano de 1916, teria 28 anos, refere que o Senhor lhe pede a fundação de uma congregação, uma ordem com uma espiritualidade muito ligada à eucaristia. Ela desenvolve esse sonho com uma amiga, também desta aldeia - a Dona Maria Augusta Martins - e as duas lutam pela fundação dessa congregação ao longo de mais de duas décadas”, relata a religiosa.

De acordo com a irmã Maria José Oliveira, enquanto as autoridades da Igreja não concediam a necessária aprovação à fundação da congregação, as duas foram alimentando este sonho, começando, desde logo “o envolvimento com a pastoral, nomeadamente com a pastoral eucarística”.

“Com a caridade fizeram de Pereira um centro muito especial de espiritualidade eucarística que congregou diversas pessoas, diversos admiradores, diversos benfeitores e levou o nome delas para fora da diocese e além-fronteiras. E então, Pereira tornou-se um centro de piedade eucarística muito marcante e hoje ainda continuam a vir muitas pessoas para participarem nesta festa que é a festa mais importante e mais representativa da aldeia”, contextualiza.

“Os habitantes foram entrando nesta dinâmica e preparam as ruas, cada morador adorna a parte da rua que lhe está subjacente, com flores, verdura por onde vai passar a procissão. As irmãs dinamizam esse trabalho e colocam slogans eucarísticos em diversas passagens”.

A solenidade do Corpo de Deus, em Pereira, é presidida pelo bispo da diocese transmontana e no final da celebração eucarística as pessoas reúnem-se “num almoço fraterno que é oferecido pelas irmãs da Casa Menino Jesus”.

“É uma das festas principais da congregação, em que todas as comunidades estão representadas. É um dia de evangelização, de vivência carismática e também testemunhal daquilo que nós podemos dar aos outros e da nossa ligação com a eucaristia”, declara a irmã Maria José Oliveira.

“Foi aqui que tudo se foi vivendo aqui está a pré-história da congregação, está também a história, mas o grande filão da nossa pré-história está aqui, na aldeia de Pereira”, observa a religiosa.

Museu da eucaristia. A memória e o desafio

O Museu das Servas Franciscanas Reparadoras, em Pereira, abriu ao público em 2016. Instalado no coração da casa de D. Maria Augusta Martins, onde ela e Alzira Sobrinho foram fazendo “germinar o anseio da fundação da congregação, tornando-o possível graças à sua persistência e determinação”, contém um pouco da história do instituto religioso. Nele estão expostos vários objetos que foram pertença e de uso dos fundadores e expressam alguns marcos importantes da história da congregação. É uma autêntica catequese eucarística.

Logo à entrada, deparamo-nos com um poema “Da semente à eucaristia”, uma espécie de síntese do que vamos encontrar nas quatro salas expositivas. É um convite ao aprofundamento do simbolismo dos objetos litúrgicos relacionados com a celebração e o culto à eucaristia.

“Anda um bocadinho à volta da história do pão e daquela metáfora evangélica do grão de trigo que morre para produzir fruto. E, no fundo, toda a dinâmica das pessoas que constituem, que são protagonistas deste museu, são os nossos fundadores. Tiveram este percurso entregarem-se, não temerem morrer para frutificarem e depois serem esse pão que se torna presença de Jesus”, contextualiza a irmã Maria José, a autora do poema.

“No fundo, a última frase do poema ´toda a semente sonha tornar-se eucaristia’ é o que está por detrás de toda a dinâmica deste museu. Nós estamos aqui para nos entregarmos e para que Deus faça de nós uma presença sua, sermos uma transparência da presença de Deus, hoje”, explica a religiosa.

De entre as muitas e “valiosas peças” assume relevo e especial destaque um sacrário que é “um ícone da congregação”, explica a irmã Maria José. O sacrário pertenceu ao oratório de Maria Augusta Martins, uma das fundadoras da congregação, e ali foi adorado Jesus eucaristia por Alzira Sobrinho e pelas primeiras companheiras.

O museu está aberto ao público e a Congregação das Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramento tinha projetado para este ano, dedicado na diocese à eucaristia, a promoção e divulgação do museu com um programa de visitas que previa também catequeses eucarísticas e momentos de oração.

“Um programa que ficou adiado, devido à pandemia de Covid-19, mas que depois contamos concretizar”, conclui a religiosa.

Eucaristia. Centro da vida e da missão

O carisma ou espiritualidade das Servas Franciscanas Reparadoras assenta na eucaristia e, segundo as constituições da congregação, as irmãs propõem-se viver “o espírito de adoração e reparação mediante uma fé profunda na Presença Real, uma sólida devoção Eucarística e a oblação da vida a Jesus Eucaristia. “À imitação de Nossa Senhora, queremos ser companheiras inseparáveis de Jesus”, diz a religiosa.

A nível pastoral, a congregação dedica-se à catequese, animação de grupos paroquiais, animação litúrgica e formação cristã a vários níveis. O trabalho apostólico assume a forma de cada contexto cultural e geográfico e a força das carências que aí se verificam.

Destaca-se na ação pastoral a coordenação e dinamização do Movimento Eucarístico de Leigos que está dividido em três sectores: Florinhas do Sacrário para crianças, Juventude Eucarística Franciscana, para jovens e Visitadores do Sacrário para adultos.

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  • Joaquim Santos
    09 jun, 2020 Tojal 13:45
    O Covid, clarificou os clérigos: Os que acreditam na Eucaristia, como Corpo e Sangue de Cristo, e os que não acreditam. O caminho da salvação está em seguir a nossa consciência e perdoar aos traidores.

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