12 jun, 2020 - 23:37 • Eunice Lourenço
Morreu no que costumava ser um dia de intenso trabalho e muita alegria, dia de abençoar os casamentos de Santo António, na Sé de Lisboa, onde era pároco desde 1996. O padre Luís Manuel Pereira da Silva, cónego, morreu esta sexta-feira, 12 de junho, ao início da noite, segundo informação divulgada pelo Patriarcado de Lisboa.
As exéquias vão decorrer nos próximos dois dias, segundo informação do Patriarcado. O corpo do padre Luís Manuel chega no domingo à Sé de Lisboa, pelas 13h30. Às 15h30, o cardeal patriarca, D. Manuel Clemente, preside à missa exequial. À noite, a partir das 21h30, decorre uma vigília orientada pelo Seminário dos Olivais.
Na segunda-feira, às 9h30, também na Sé de Lisboa, será celebrada missa presidida por D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa. De seguida, o corpo do cónego Luís Manuel seguirá para a terra natal dos pais, onde será sepultado. As celebrações vão ser transmitidas "online" e em direto a partir do "site" e redes sociais do Patriarcado de Lisboa.
Além de prior da Sé, o padre Luís Manuelera diretor do departamento de liturgia do Patriarcado, assistente da Associação de Professores Católicos e mestre de cerimónias patriarcais. Como mestre de cerimónias ou como pároco da Sé, entrou muitas vezes na casa de milhares de portugueses, através das transmissões televisivas dos casamentos de Santo António. Como professor de Liturgia na Universidade Católica, ajudou a formar dezenas de padres.
Muitos desses padres partilham agora nas redes sociais memórias do formador e amigo, de sorriso sempre pronto e humor finíssimo, que vibrava como poucos a explicar a liturgia eucarística e contava, com muita graça, histórias de casamentos.
Nascido a 2 de setembro de 1956, na lisboeta freguesia de S. José, Luís Manuel Pereira da Silva quis ir para o seminário logo aos 10 anos. E foi. Esteve três anos no seminário menor de Santarém (então parte da diocese de Lisboa), mas saiu quando o seminário fechou, como aconteceu como muitos seminários menores na fase pós-Concilio Vaticano II.
Voltou para Lisboa, andou em dois dos mais conhecidos liceus da cidade - o Passos Manuel e o Camões -, mas, mesmo com a questão vocacional sempre a pairar, acabou para o tirar o curso de Filosofia e chegou a dar aulas em Loures e em Lisboa. Só aos 32 anos voltou para o seminário, tendo sido ordenado padre em 1993, no Mosteiro dos Jerónimos, pelo cardeal António Ribeiro. Antes, esteve em Roma a estudar Liturgia.
“Tinha o desejo enorme, apesar das minhas fragilidades, de amar a Deus e servir a Igreja”, recordou, em entrevista ao jornal "Voz da Verdade", quando celebrou os 25 anos de ordenação, em 2018. Nessa ocasião, também falou da doença, um linfoma, que combateu durante anos.
“Lembro-me que, no meu retiro de ordenação, o padre que nos pregou o retiro nos dizia ‘para onde o bispo vos mandar, fazei disso a vossa China’. Isto é: fazer do lugar onde o bispo nos coloca o lugar onde temos de dar o nosso melhor, evangelizar, caminhar, dar vida. Nunca me esqueci disso, por isso nunca pedi para mudar”, contava.
"Pedi, sim, nesta fase da minha doença. Por três vezes, disse ao sr. Patriarca que tinha o lugar à disposição, que ele decidisse o que fosse melhor para a Igreja e para a diocese. O sr. Patriarca doi sempre de um grande alento. Recordo a determinação com que, no primeiro dia, me disse: ‘Não! Tu vais curar-te. Ficas onde estás e alguém há-de ajudar-te’ Fiquei impressionado e tem sido, de facto, um alento”, dizia o padre Luís Manuel, em novembro de 2018.
"Nascemos na Páscoa e vamos de páscoa em páscoa até à Páscoa eterna!", dizia muitas vezes este padre e professor que faleceu aos 63 anos, como pároco da Sé, lugar em que se manteve apesar da doença, que, nos últimos meses, o afastou de muitas celebrações.
[notícia atualizada em relação às exéquias este sábado, às 13h40]