13 jun, 2020 - 19:15 • Liliana Monteiro
Foi mais forte que Bruno Santos e na última noite, a noite áurea das marchas populares em Lisboa, ele e a mulher de mãos dadas desceram a Avenida da Liberdade de forma simbólica.
"Fazer o percurso naquela noite daquela maneira nunca me passou pela cabeça. Veio tristeza, e muitas lágrimas aos olhos", conta Bruno, em entrevista à Renascença.
Sem combinar com ninguém, admite, acabou por encontrar outros marchantes que se juntaram, com a devida distância, para a única forma possível de assinalar aquela noite. A avenida, que outrora nesta noite é pintada de cor, muita dança e música, estava escura e praticamente vazia.
É coordenador das marchas de São Vicente há 10 anos, mas há 26 que participa nelas: "Foi uma noite triste, vazia e estranha, nunca tinha vivido uma noite de Santo António assim."
Bruno diz sentir uma saudade imensa do cheiro, o cheiro dos bairros que é sempre característico nesta altura.
"Passávamos pelos bairros e havia cheiro a sardinha, chouriço assado, entremeada. Era característico e este ano não há nada", lamenta, sublinhando, no entanto, que não faria sentido ser de outra forma, porque em primeiro lugar vêm as recomendações das várias entidades.
Às mais de 100 pessoas envolvidas na marcha de São Vicente, que foram obrigadas a adiar o sonho da noite de Santo António, deixa uma mensagem: "Ninguém disse que era fácil, disseram sim que ia valer a pena."
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Carlos Alberto Santos é coordenador da marcha dos Olivais há 17 anos e sabe bem o êxtase em que ficam as cerca de 80 pessoas que trabalham um ano inteiro para aquela noite, a noite do desfile na Avenida da Liberdade, em Lisboa.
"Nunca tinha acontecido uma situação destas. Estava tudo preparado: música, letra e já estávamos nos ensaios quando nos alertaram que não ia haver por causa da pandemia", revela, também em entrevista à Renascença.
"Sentimos um vazio, porque estávamos convencidos de que se ia realizar mais tarde ou mais cedo, com mais dificuldade e menos ensaios, até que chegou a notícia do cancelamento e foi uma desilusão", assume.
Eles que em coordenação com a junta de freguesia tinham feito já "ensaio para dar volta ao bairro com um par de marchantes e mascotes, mas não foi possível".
Este sábado, abriram a coletividade. "Comemos umas sardinhas em casa, mas não podemos ir além disso. A colectividade tem de fechar às 7 da tarde, temos pessoas a jogar às cartas e 'snooker'. Se houvesse marchas? Nem estávamos aqui", exclama Carlos Alberto Santos.
Esperam-se dias melhores e concentram-se energias no próximo ano: ‘Que fôssemos a dobrar. Temos um tema forte e para o ano vamos dar mais 50%."