23 jun, 2020 - 07:00 • Ângela Roque
São 43 os idosos que estão a ser fotografadas por estes dias, numa iniciativa da Associação "Mais Proximidade, Melhor Vida" (MPMV), que atua na freguesia lisboeta de Santa Maria Maior. Todos residentes na zona da baixa e da Mouraria acolheram bem a proposta da instituição que já os apoia regularmente.
“Temos tido 'feedback' das pessoas, dizem que estão a vestir aquele vestido que já não usavam há anos, estão-se a maquilhar e a ir ao cabeleireiro, estão a pôr uma roupa diferente, e é este o impacto que queremos ter com um projeto como este”, diz à Renascença Rita Roquette, explicando que a iniciativa tem dois objetivos principais:
“Queremos combater a solidão e o isolamento, que foi particularmente sentido neste período de pandemia, e em simultâneo ser um projeto de valorização pessoal e de reconquista da autoestima das pessoas idosas que acompanhamos”.
Com a ajuda voluntária de nove fotógrafos (José Carlos Nascimento, Nuno Beja, José Fânzeres, Maria Helena da Bernarda, Joana Duarte, Catarina Macedo Ferreira, Onésimo Costa, Pedro Romero e Filipa Bordalo), os “Retratos à Janela” começaram a ser tirados dia 17, prosseguindo esta terça e quarta-feira, 23 e 24 de junho.
As fotografias selecionadas serão depois oferecidas aos idosos “como lembrança e recordação desta iniciativa diferente, que acima de tudo os quer valorizar enquanto pessoas”, sublinha a responsável pela comunicação da associação.
A MPMV acompanha atualmente um total de 120 idosos, cujo isolamento se agravou nos últimos meses por causa da pandemia, que obrigou a associação a reajustar o apoio que presta. “Tendo em conta que a nossa intervenção assenta muito na proximidade, tivemos obviamente que nos ajustar e adaptar”, avança Rita Roquette, dando como exemplo as visitas ao domicílio.
“Inicialmente foram restringidas ao meramente urgente e inadiável e substituímo-las por contactos telefónicos regulares. Esses contactos já serviam para o combate à solidão e ao isolamento, e para perceber se as pessoas tinham alguma necessidade, desde as compras de supermercado à medicação, que nós faríamos chegar a casa. Esse trabalho continuou a ser feito, em articulação com outras entidades parceiras, por isso o que nós tivemos de fazer sobretudo foi um reajuste e uma readaptação da nossa intervenção”, explica.
Desde março que reforçaram os contactos telefónicos - 3.200 só no primeiro mês de confinamento e, neste momento, já retomaram as visitas domiciliárias, embora com adaptações. “Estamos a fazê-las à janela ou à porta de casa. Em situações extremas, obviamente que entramos no domicílio, com todos os cuidados e precauções. Temos todo o equipamento de proteção individual que as nossas técnicas utilizam no caso de ser necessário entrar na casa das pessoas”.
Para Rita Roquette, mais do que dificuldades, a pandemia trouxe novos desafios a quem apoia idosos. É preciso estar atento às consequências do isolamento ao nível psicológico, mas também a nível físico, por causa da falta de mobilidade.
“Sabemos que pelo facto de ficarem mais confinadas no seu domicílio as pessoas idosas apresentam problemas maiores de mobilidade, e o que já estamos a tentar fazer é diminuir ou mitigar esses problemas. Neste momento temos já um enfermeiro connosco, voluntário, que está a ajudar-nos a acompanhar estas pessoas, e a fazer alguma reabilitação, porque sabemos que a mobilidade vai ser claramente um dos desafios a enfrentar nos próximos tempos”.
Rita Roquette agradece o apoio da sociedade civil e dos voluntários, sem os quais nesta fase “não teria sido possível continuar a ajudar” os 120 idosos que vivem em situação de isolamento e solidão na baixa de Lisboa e na Mouraria.
A atividade desta associação, e as necessidades que vão tendo, de donativos ou de voluntários, podem ser consultadas no site na instituição em www.mpmv.pt