18 jul, 2020 - 01:40 • Filipe d'Avillez
A organização Europa Nostra, dedicada à proteção e promoção da herança cultural no continente europeu, lamente a decisão tomada pelo Governo turco de transformar a Hagia Sophia de novo numa mesquita.
Numa tomada de posição enviada à Renascença, a Europa Nostra diz que “lamenta a decisão de mudar o estatuto de museu, e consequente jurisdição, de um dos maiores e mais icónicos monumentos da Europa e do mundo”, dizendo que a decisão “levanta preocupações fundamentais sobre o futuro deste monumento que é património mundial”.
A Europa Nostra recorda que foi só quando o então líder da Turquia, Mustafa Kemal Atatürk transformou a então mesquita num museu que foi possível desvendar “os valores multifacetados da sua história e que o edifício passou a estar aberto ao público para admirar a beleza única da sua arquitetura e arte”.
A organização vai mais longe e diz que a inclusão da Hagia Sophia na lista de património mundial da Unesco, a pedido do Governo turco, “foi um sinal de aprovação internacional do registo positivo de sucessivos governos turcos de preservar de forma integral a Hagia Sophia, respeitando a integridade das muitas camadas dos seus quinze séculos de história” e recorda que qualquer alteração significativa ao local deve ser comunicada de antemão à Unesco, para que esta avalie e se pronuncie, o que não aconteceu.
Numa era em que a humanidade enfrenta, em conjunto, tantos desafios, “o nosso património cultural partilhado deve ser uma fonte de inspiração e solidariedade através do diálogo intercultural e inter-religioso”, escreve a Europa Nostra.
“A Hagia Sophia deve continuar a servir esta causa vital, como museu, para benefício de todos os cidadãos da Turquia, da Europa e no resto do mundo”, conclui a organização.
Construída no Século V, quando Istanbul era ainda Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, a catedral de Hagia Sophia chegou a ser a maior igreja de toda a cristandade. Em 1453, com a ocupação da cidade pelos otomanos, a igreja foi transformada numa mesquita e só em 1933, com o fim do Império Otomano, é que Atatürk, num esforço de ocidentalização do país, a transformou num museu.