22 set, 2020 - 15:33 • Liliana Carona
O jornal deu nome à rua onde fica sedeado o "Notícias da Covilhã", um centenário, nascido no dia 18 de maio de 1919.
Nssa data, publicava-se o número 1. O diretor era o cónego Manuel Anaquim. Hoje, é o padre Luís Miguel Pardal Freire, 40 anos, jornalista formado e com carteira profissional. Sai da igreja em passo apressado, esperam-no na redação. “É a toda a hora, toda a gente precisa de conselhos, neste caso era uma festa religiosa e querem noticiá-la no jornal 'Notícias da Covilhã'”, explica, enquanto o telefone não para de tocar.
Mas como foi um parar um padre ao jornalismo? “Antes de ser padre, era professor de Português do ensino secundário. Depois, fiz o curso de Teologia e, após quatro anos de sacerdócio, o bispo da Guarda desafiou-me a estudar jornalismo. Terminei a tese de mestrado em 2017, na UBI, e há quase dois anos fui nomeado por D. Manuel Felício para assumir estas funções no jornal."
O padre Luís Freire encara estas funções como “uma grande responsabilidade”, principalmente em tempos de pandemia que afetaram o panorama da imprensa regional. “Tem sido um desafio, uma plena dor de cabeça. A imprensa regional passa por um momento muito difícil e a pandemia veio complicar a nossa situação, é uma grande responsabilidade gerir um jornal com 101 anos. Procuro manter viva a esperança de que o problema de hoje já não existe amanhã. Nos dois primeiros estados de emergência, optámos por fazer apenas edição 'online', mas não saímos do mapa da informação. Enviámos o jornal para os assinantes e facultámos os PDF gratuitamente no nosso site”, conta.
Padre com duas paróquias - São Martinho e Santo André da Boidobra - está ainda envolvido na Pastoral Juvenil e Universitária, tudo isto a conjugar com o papel de jornalista e de diretor do jornal centenário. “O dia começa sempre com oração e espiritualidade, sendo que as manhãs são de escritório e redação, e as tardes de paróquia e atendimento às pessoas. No tempo livre, faço os trilhos pela Serra da Estrela e dedico-me à leitura”, conta.
Ordenado sacerdote em 2010, na Guarda, natural da Covilhã, completa em dezembro dois anos na direção do "Notícias da Covilhã". A luta diária é para quebrar um preconceito. “O olhar sobre o jornalismo de inspiração cristã é um olhar desconfiado, porque há um peso de uma instituição conservadora, segundo se diz, e isso cria um preconceito, impede que se olhe para a nossa notícia como totalmente livre. Obviamente que temos muito cuidado na linguagem que usamos e na maneira como expomos os problemas. Não é uma linguagem sensacionalista, mas muito preocupada, é um código ético, uma informação centrada na pessoa e no facto”, garante.
Uma ética seguida pelos colegas de redação. Ana Rodrigues, 42 anos, e João Alves, 45, são jornalistas habituados a ter como diretores sacerdotes. “Desde que terminei o curso, todos os diretores foram padres, até hoje. Para nós, é habitual. Sabemos que não podem estar cá a tempo inteiro”, sublinha Ana, que conhece o padre Luís Freire ainda do tempo dos bancos da faculdade.
“Fomos caloiros no mesmo ano, cruzámo-nos como colegas e agora sou diretor do jornal onde ela trabalha”, interrompe o padre Luís Freire.
Também João Alves 45 anos, jornalista há 22 anos, sabe pelo passado que um jornal da diocese, tem sempre diretores padres, “habituamo-nos às rotinas deles, não é nada de diferente ou esquisito” assume.
Por isso, nesta redação ninguém estranha quando Luís Freire tem de sair mais cedo. “Vou presidir a um funeral às 16h30 e, depois, às 18h30 tenho missa. Depois disto, a novena à noite com um grupo grande de pessoas, mais um ensaio com os jovens para cantarem na missa de domingo. O dia acaba lá para as 23h00", sai sorridente da redação.
O "Notícias da Covilhã" e o "Jornal da Beira" vão esta semana receber uma distinção honorífica nas Jornadas Nacionais de Comunicação Social, que vão decorrer a 24 e 25 de setembro, desta vez apenas em formato "online". A distinção vai ser entregue aos dois jornais centenários “pelo trabalho que têm desempenhado em termos de imprensa regional”, disse à Renascença a diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, Isabel Figueiredo, que organiza as jornadas.