02 out, 2020 - 19:50 • Filipe d'Avillez
Morreu na passada quinta-feira, aos 87 anos de idade, o líder espiritual da comunidade religiosa yazidi.
Baba Sheikh Khurto Hajji Ismail tinha sido internado dois dias antes de morrer, com problemas cardíacos e de rins.
Enquanto líder espiritual dos yazidis, Baba Sheikh ajudou a comunidade a ultrapassar um dos momentos mais traumáticos da sua história recente, a violência e perseguição que sofreu às mãos dos jihadistas do Estado Islâmico, que invadiram as suas terras ancestrais, em torno do Monte Sinjar, no Iraque, a partir de agosto de 2014.
Enquanto que aos cristãos, que também habitavam muitas das regiões onde viviam os yazidis, era dada tradicionalmente a opção de se converterem ao Islão ou pagarem um imposto especial, os homens yazidis eram por regra todos mortos e as mulheres jovens levadas para serem escravas sexuais dos combatentes.
Mesmo depois de o Estado Islâmico ter sido derrotado e expulso do território, milhares de mulheres yazidis continuam desaparecidas, algo que o líder espiritual lamentou em dezembro de 2019, em declarações à organização Christian Solidarity Worldwide.
“Quando precisávamos dela, a comunidade internacional falhou-nos a nós e aos cristãos. A incapacidade de nos devolver os nossos familiares, de restaurar as nossas casas em Sinjar, de fornecer segurança e proteção torna ridículas todas as suas afirmações de se preocuparem com os nossos povo, traídos e abandonados”, disse.
“Não podemos ter paz sem justiça, mas muitos dos terroristas do Estado Islâmico estão a viver agora entre nós e ninguém é responsabilizado”, concluiu Baba Sheikh, reafirmando aquilo que muitos ativistas yazidi e cristãos já tinham dito, que os primeiros a virar-se contra eles foram, em muitos casos, os seus próprios vizinhos.
Enquanto líder espiritual dos yazidi, uma comunidade que professa a religião tradicional do povo curdo, Baba Sheikh visitou o Vaticano em 2011, tendo sido recebido pelo então Papa Bento XVI e participando no encontro de Assis de oração pela Paz. Em 2015 fez também parte de uma delegação yazidi que foi recebida pelo Papa Francisco, a quem agradeceu o apoio durante a perseguição.