01 out, 2020 - 17:30 • Ana Lisboa
O caso da jovem cristã Maira Shahbaz, que foi raptada, violada e forçada a casar, que está a comover a comunidade cristã paquistanesa, teve agora uma reviravolta, revela a fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), que dá mais esperança à sua família para a reaver.
Segundo a AIS Mohamad Nakash Tariq, o homem que sequestrou, violou e forçou a casar a menor Maira Shahbaz, de 14 anos, não apareceu na audiência no tribunal "onde escutaria uma petição para o cancelamento do seu casamento, invocando-se o facto de este ter ocorrido contra a vontade da jovem cristã e por esta ser menor da idade".
A fundação pontifícia revela ainda que "no seguimento de uma decisão judicial anterior, foi decidido rever também as provas apresentadas por Mohamad Tariq e que atestariam a legalidade do seu casamento com Maira Shahbaz e comprovariam o facto de ela ter abraçado o islão. O tribunal solicitou a apresentação de novas provas, incluindo registos policiais e as certidões de nascimento e de casamento de Maira, tal como novos relatórios médicos".
Este caso teve um desenvolvimento importante a 18 de agosto, quando Maira conseguiu fugir do seu raptor e apresentou queixa contra ele numa esquadra da polícia. Nessa declaração, a jovem contou "ter sido raptada em abril, com uma arma apontada contra si, quando estava perto de sua casa no Punjab.”
Posteriormente, disse ainda às autoridades que foi drogada, forçada a casar e a converter-se ao islão. Nesse testemunho, a jovem cristã afirmou também ter sido violentada, chantageada e forçada à prostituição.
Entretanto, o clérigo muçulmano cuja assinatura aparece na certidão de casamento de Maira com Mohamad "já rejeitou o documento afirmando ser uma falsificação".
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A não comparência em tribunal do homem acusado de sequestro de Maira Shahbaz não significa que o caso esteja encerrado, admite a AIS. Mesmo que juridicamente as coisas estejam a avançar de forma positiva, a família da jovem cristã tem medo do que possa ainda acontecer.
A advogada de Maira, Sumera Shafique, afirmou em declarações à fundação AIS, que "estão todos preocupados", temendo que Mohamad Nakash Tariq "volte a raptá-la, matando-a, assim como a outras pessoas da família". Em seu entender, "os sinais são inquietantes, pois trata-se de uma família cristã humilde. Mesmo que ela ganhe o caso, não estará a salvo."
A advogada alega que "ao fugir da casa onde estava sequestrada e regressando à sua família, Maira será sempre considerada apóstata do islão aos olhos de Nakash e dos grupos das máfias e estes continuarão a exigir a sua morte".
Prova disso, acrescentou ainda a advogada, é que "tanto a jovem como a sua família têm continuado a receber ameaças, apesar de estarem sob proteção policial 24 horas por dia e em lugar incerto, tal como foi ordenado pelo tribunal".
A verdade, porém, é que mesmo estas pequenas vitórias judiciais seriam vistas como uma utopia há uns anos pelos cristãos paquistaneses, que se habituaram a ver as suas filhas raptadas e convertidas à força ao islão sem que os criminosos tivessem de enfrentar qualquer castigo.
Recentemente o caso de Huma Younus, que também foi raptada com 14 anos e entretanto engravidou graças aos abusos a que foi sujeita pelos seus raptores, teve também uma reviravolta. Depois de um tribunal de primeira instância ter invocado a lei islâmica para validar o casamento, contrariando a própria lei paquistanesa que proíbe o casamento a menores de 18 anos, já em setembro um tribunal emitiu um mandado de captura para os homens acusados de a manterem em cativeiro.