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Entrevista

Igreja receia que “novo normal” afaste crianças da catequese

06 out, 2020 - 08:00 • Henrique Cunha

D. António Moiteiro defende catequeses presenciais em capelas pouco usadas, mas não descarta o recurso ao online. “Na educação da fé, um elemento fundamental é a comunidade”, afirma à Renascença.

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O presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé receia “abandono precoce das crianças da catequese”. Em entrevista à Renascença, revela que, em “algumas paróquias, houve uma redução de inscrições” porque os pais “receiam o contágio”.

Para a retoma das atividades, D. António Moiteiro defende que se deve privilegiar a catequese presencial e sugere as capelas “que só têm culto uma vez por ano, durante as festas, sejam limpas” para que possam ser utilizadas.

“Devemos privilegiar a catequese presencial. Isto é a catequese semanal. Um grupo, um catequista ou dois e catequese”, sublinha.

E esses grupos devem ter também um número restrito de pessoas?

Têm de ter um número adaptado à sala de catequese. E aqui existe uma dificuldade adicional. Como nós temos salas que não são grandes e, sobretudo nas cidades e nas paroquias maiores, os grupos de catequese são grandes, é preciso desdobrá-los e pode acontecer que não tenhamos os espaços necessários.

Então, é preciso tentar fazer um equilíbrio entre o presencial e o litúrgico, isto é, talvez tenhamos de usar mais o espaço grande Igreja, quer para o grupo de catequese, mas sobretudo para a liturgia. Quando os grupos têm de ser divididos, então pode dar-se o caso de, numa semana, termos a catequese presencial e na outra semana termos a Eucaristia.

Aí, na Eucaristia temos de fazer todo o esforço para que a família esteja presente. E há ainda uma terceira possibilidade que é o recurso ao online, quando os grupos têm de ser divididos.

Isso vai exigir um esforço adicional por parte dos catequistas?

Temos que ter com certeza mais catequistas, mas também os catequistas têm de ter mais formação, porque eu conheço muito catequistas que, na questão das novas técnicas de comunicação – online, WhatsApp, Facebook – não estão minimamente apetrechados para o fazer.

A experiência do confinamento com a realização das sessões através das plataformas digitais não foi negativa. Contudo há o risco de se perder um fator importante no contacto com as crianças e os jovens e que passa por uma maior proximidade e também uma maior manifestação de afetividade. Concorda?

Sim, na educação da fé há um elemento que é fundamental que é a comunidade; é a comunidade cristã. A primeira é a família, mas a comunidade mais alargada é a paroquial – nós até dizemos que é a catequese da comunidade cristã.

A catequese é um elemento integrante da educação da fé da comunidade cristã. Uma comunidade cristã que não eduque é uma comunidade estéril.

Agora, que o elemento online é importante é; que o período de confinamento nos trouxe esta possibilidade e esta descoberta e esta maravilha de contacto, sim. Mas o aspeto comunitário, o aspeto da relação pessoal catequisando, catequista, grupo de catequese é fundamental para a educação da fé.

A distância potencia a perda, o esfriar no relacionamento. É de recear o abandono de alguns jovens e de crianças da catequese?

Sim, é de recear e esse é um dos desafios que se estão a colocar às nossas paróquias. Eu tenho paróquias em que a retoma da presença nas eucaristias dominicais mais ou menos está a ser normal. Quando digo normal, estou a dizer que as pessoas retomaram, celebram a sua fé e participam.

Mas também tenho comunidades em que o receio é grande, em que há muita gente que não participa porque tem receio do contágio. E esse receio do contágio, não participar na eucaristia pode levar a um afastamento progressivo da fé.

Quando se deixa de praticar, vamo-nos afastando progressivamente de uma prática religiosa, de valores cristãos que essa prática traz à pessoa. E depois o que é que acontece? A pessoa deixa de ter sensibilidade religiosa.

É um desafio. Sem comunidade cristã e sem nós celebrarmos a fé juntos, dificilmente podemos educar na fé e podemos crescer na fé. E o que está a acontecer na comunidade paroquial normal dá-se também na catequese com uma agravante: os pais têm muito receio de contágio para os filhos.

E eu tenho sentido, quando falo com os párocos, que há paróquias onde as inscrições da catequese foram mais ou menos normais e há outras paróquias onde as inscrições são diminutas. Também aqui está o papel da comunidade, estão as condições da própria comunidade. As condições materiais de terem salas ou não. E, por exemplo, as paróquias que têm várias capelas que só têm culto uma vez por ano, durante as festas, essas capelas limpas podem ser salas de catequese para um grupo de catequese normal.

Até porque seria uma fatalidade o abandono precoce das crianças da catequese e eventualmente da própria Igreja…

Sim, sim, isso seria uma fatalidade e seria um abandono. E isso coloca-nos muitas dificuldades, porque no momento em que a pessoa abandona depois a retoma é muito mais difícil.

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