13 nov, 2020 - 07:00 • Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)
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Conhecido por nunca ter tido listas de espera no departamento que chefiou durante 30 anos no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, o cirurgião Manuel Antunes foi sempre crítico da má gestão do Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas reconhece que no atual contexto de pandemia seria difícil fazer melhor e até não falhar.
“Fala-se muito da falta de camas, de ventiladores, de médicos, de enfermeiros, como se pudéssemos ter – nenhum país tem – sempre tudo o que fosse preciso, à espera que um dia venha um novo terramoto de Lisboa, ou qualquer desgraça”. Mas também acha que a assistência aos doentes não Covid há muito que devia estar a ser assegurada pelos hospitais privados.
“Há uma coisa em que tenho de ser crítico, é nesta relutância, que não consigo compreender, em obter o apoio dos privados e até do setor social ligado à prestação de cuidados de saúde. Dizem 'ah, mas eles sempre se recusaram a ter doentes Covid’. Pois, porque as estruturas privadas não foram preparadas para ter isso, mas podiam fazer o tratamento das outras doenças que não podem ser tratadas nos hospitais, quando reservarem camas para o Covid”, afirma.
Manuel Antunes também lembra que logo na primeira vaga ficou claro que patologias “até mais mortíferas do que a Covid-19” deixaram de ser cuidadas, o que resultou num evidente aumento do número de mortos em relação à média dos últimos cinco anos.
Com mais de 35 mil cirurgias ao coração no currículo, Manuel Antunes afirma-se "totalmente contra a eutanásia", -- "Sou contra!", diz -- subscrevendo aquela que tem sido a posição oficial da Ordem dos Médicos.
“Tem feito saber, e bem - e alguns não são religiosos, não são crentes – que nós, médicos, fomos criados e ensinados a fazer tudo para preservar e melhorar a vida das pessoas, e não ao contrário. Eu nunca desliguei uma máquina, porque a natureza - e costumo dizer apenas a natureza - acaba sempre por seguir o seu caminho, se quiser, os desígnios de Deus acabam sempre por prosseguir”.
Politicamente, acha que este não é o momento correto para se discutir esta questão, porque “estamos preocupados em salvar vidas. Na realidade não há nenhum momento politicamente correto para isso, mas este é ainda pior. Nós temos muito mais em que pensar, mesmo os parlamentares, que estão lá um pouco isolados, e talvez um bocadinho imunes à pandemia.... mas, acho que a política não tem momentos corretos. Às vezes aproveitar os momentos politicamente incorretos serve a política para alguns fins. E muitos políticos querem ser politicamente incorretos para, exatamente, servir os seus fins”.
Nesta entrevista, o novo presidente de Cáritas Diocesana de Coimbra fala do novo cargo, que encara como um “dever de cidadania” e da importância desta instituição e das IPSS em geral, que considera devem ser “o pilar da prestação de cuidados sociais”, e não o Estado.
A Renascença transmite esta entrevista na íntegra domingo às 10h30.