14 nov, 2020 - 20:25 • Henrique Cunha
Este livro surge num momento em que, infelizmente, muitas das situações sociais estão encobertas pela pandemia. É um grito de alerta por altura do dia mundial do pobre?
Nesta circunstância como as estatísticas tem demonstrado há ricos são ainda mais ricos e não tenho nada contra, mas há pobres que estão muito pobres. E é uma espécie de grito também na sociedade portuguesa para que preste atenção a esta desigualdade. Por outro lado, foi a própria pandemia que permitiu algum tempo livres para se organizarem alguns textos que estavam em depósito.
Ao longo desta crise foi denunciando situações de maior carência. Elas persistem, como se percebe pelas suas palavras, eencontrou outras?
Temos apenas dados, dados estatísticos que nos dizem por exemplo que aquelas pessoas que estavam ligadas direta ou indiretamente ao turismo foram os que mais pagaram esta crise.
Quem analisado muito bem a situação para lhe dar resposta têm sido as instituições sociais.
Quando se fizer a história desta pandemia há-de-se descobrir que os dramas grandes, só não são totais, devido em grande parte grande parte a estas instituições presentes na proximidade com os mais pobres, os mais carentes, os mais débeis.
Sejam os nossos centros sociais paroquiais, sejam outros que não são da Igreja, mas que são também muito responsáveis de forma geral têm sido os grandes garantes de que a pandemia não se transforme numa mortalidade coletiva.
O sr. Bispo tem um olhar sobre a realidade, sobre a sociedade e sobre como o governo e o poder local têm gerido esta crise. Ainda se situa mais ou menos naquele pensamento que me transmitiu em meados de abril de que aqueles que nos são próximos têm estado melhor?
Neste momento não queria pôr o dedo em riste para acusar ninguém. Julgo que todos mais ou menos têm feito a sua função com competência, embora às vezes fosse previsível agora às vezes posso previsível que dos grandes poderes nacionais esperássemos algum poder de antecipação. Porque eles têm normalmente um conjunto de técnicos, de inteligência que lhes permitiria dizer vai-se aproximar isto, o futuro caminhará nesta direção ou naquela; coisa que evidentemente num regime de proximidade não é possível.
Uma última pergunta: na construção desta cidade feliz que pilares é necessário continuarmos a preservar?
Em primeiro lugar a centralidade da pessoa humana. Não é possível mais uma civilização contruída à base do dinheiro, como o Papa Francisco tantas vezes acentua... uma economia que mata: não pode ser. O Papa tanto insiste que as vacinas quando chegarem devem ser distribuídas pela humanidade toda. E em segundo lugar, como derivado deste primeiro - da centralidade da pessoa - são os direitos humanos. Os direitos humanos que não podem confinar-se aquela noção genérica e absolutamente fria e às vezes quase provocatória da liberdade.
O Ocidente parece que não conhece mais nada que não seja a reivindicação da liberdade e ela é bonita. Sem liberdade nem sequer há valor moral. Agora, as energias que nós gastamos a reivindicar a liberdade - a liberdade de pensamento, a liberdade de expressão - se gastássemos uma energia relativamente semelhante por exemplo a reivindicar o papel central do pobre, politicas mais de acordo com a pobreza, o ir ao encontro daqueles que não tem capacidade de caminhar pelos seus próprios pés ficam para trás na estrada da vida. Mas isso é mais difícil, isso empenha mais. Reivindicar liberdade é facílimo, reivindicar presença junto do pobre, do débil, supõe muito mais presença o que se torna difícil.