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Eduardo Lourenço deixa “um legado e uma grande responsabilidade”, diz Tolentino Mendonça

02 dez, 2020 - 11:48 • Marta Grosso , Aura Miguel (entrevista)

Conselheiro do Papa concelebrou a missa de corpo presente do ensaísta que morreu na terça-feira, aos 97 anos.

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“É uma situação inédita esta que vivemos”, começa por dizer Tolentino Mendonça à Renascença, a propósito da morte de Eduardo Lourenço.

“Quando morria alguém com uma dimensão pública e cultural em Portugal, a pessoa que íamos escutar era exatamente o Professor Eduardo Lourenço e hoje, que é o dia da partida dele, nós perguntamos a nós próprios quem era Eduardo Lourenço e o que é que eles nos deixa”, sustenta.

E o que nos deixa é um legado e enorme responsabilidade, considera o conselheiro do Papa que, nesta quarta-feira, presidiu à missa de corpo presente do ensaísta e pensador ao lado do cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

“A ideia que ele mais perseguiu, mais trabalhou, pensando Portugal, a literatura portuguesa, a política portuguesa, os traumas portugueses – porque também fez a psicanálise de Portugal – foi o da comunidade”, diz José Tolentino Mendonça.

Eduardo Lourenço mostrava “a interligação profunda” existente no país, “falando de Portugal como de uma experiência espiritual. E isso é um legado e uma responsabilidade para todos nós”.

“Faz-nos muita falta essa visão integradora e um olhar para Portugal como uma realidade coesa e como um país com um projeto que não se esgota no imediato, mas, como ele dizia, que é uma espécie de destino”, concretiza.

Tolentino Mendonça destaca a capacidade de olhar o país além do dia-a-dia, olhando “para as questões últimas: porque é que estamos aqui, porque é que fazemos isto juntos, porque é que a nossa História é esta, onde é que ela nos conduz, que portas novas temos de abrir?”

“A reflexão de Eduardo Lourenço faz-nos muita falta e temos de olhá-la, sobretudo, como uma grande responsabilidade a partir de agora”, reforça nestas declarações à Renascença.

Eduardo Lourenço “é um dos homens mais sábios do Portugal contemporâneo”, declara, justificando: “a cada tema, a cada assunto, a cada problema, dava uma profundidade de olhar que nos faz muita falta. Era capaz de fazer uma síntese. Num mundo em que parece que tudo é desagregado, que nada tem a ver com nada, ele mostrava que estava tudo ligado”, conclui.

O pensador e ensaísta Eduardo Lourenço morreu na terça-feira, aos 97 anos. O Governo decretou dia de luto nacional para esta quarta-feira.

Eduardo Lourenço, o maior ensaísta português do século XX
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