20 dez, 2020 - 11:00 • Cristina Nascimento
“Custava-me muito ver as pessoas chegarem à Igreja e dizer-lhes que já não havia lugar”. Nuno Rosário Fernandes, pároco da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica, Lisboa, descreve com tristeza na voz este detalhe do regresso dos fiéis às igrejas, depois da Covid-19 ter obrigado a encerrar portas durante a primeira vaga da pandemia.
Assim, o padre Nuno colocou no exterior ecrãs de televisão e cadeiras, dando novo espaço à igreja. Antes, ainda durante o confinamento, e porque é dado a estas coisas da tecnologia, já tinha ido mais longe. Se as pessoas não podiam ir à igreja, ia a igreja ter com elas e, aproveitando o site da paróquia, o canal de Youtube e o Facebook, passaram a transmitir diariamente a missa e o terço. “A paróquia alargou fronteiras”, diz o padre.
“Deixou de ser a paróquia na freguesia de Benfica, passou a ser uma paróquia que chegou um pouco a todo o mundo. Durante o tempo do confinamento percebemos que tínhamos pessoas a ver-nos da Austrália, do Canadá, do Brasil, dos EUA, do Norte do Pais, do Algarve, da Madeira, dos Açores, noutros países da Europa”, descreve.
“As pessoas foram tendo contacto e estavam aquela hora, sobretudo no momento do terço, que foi o momento de maior visibilidade”, acrescenta.
Terminada a fase mais severa do confinamento, a tendência digital permaneceu. A paróquia decidiu fazer um investimento para ter condições de fazer melhores transmissões e, em dezembro, transmitiu uma procissão feita pelas ruas de Benfica.
“Pedimos às pessoas que, em casa, pudessem vir à janela e acompanhar a passagem na rua, com uma vela acesa. Foi bonito ver nas janelas, nas varandas e algumas pessoas que vieram à porta dos seus prédios para ver a imagem passar”, descreve.
O pároco sublinha que participar na vida da igreja através dos ecrãs “não é a mesma coisa, não substitui, de maneira nenhuma”, mas é, por exemplo, uma resposta para pessoas mais velhas ou doentes que já não podem vir à igreja poderem “estar em contacto com a Igreja onde cresceram, tiveram as suas atividades e viveram a sua fé”.
Nesta conversa com a Renascença, o padre Nuno refere que recebeu relatos de pessoas que andavam afastadas da vida da igreja e que, com a facilidade destes meios digitais, aproximaram-se.
“Tive testemunhos de pessoas, que me chegaram através do Facebook ou até por email, que viviam a sua fé de uma forma muito mais ligeira e que sentiram esta proximidade, têm sentido esta ajuda. Houve gente que me escreveu a dizer ‘eu não ia tanto à missa, mas agora estou a acompanhar mais’ e até já houve gente que quis e começou a vir à igreja.”
Nesta senda de aproximação das pessoas, Nuno Rosário Fernandes, que é também diretor do jornal diocesano “Voz da Verdade”, deu inicio a um projeto de partilha de testemunhos de fé: o podcast “Leigos que Contam” dá voz a “pessoas que não são conhecidas, não são figuras públicas, mas que têm uma história de fé para partilhar”.
“Estamos a fazer este programa quinzenal, não tem um limite de tempo, já houve um com 40 minutos e outros com 22. Cada programa é único e com histórias muito bonitas para partilhar”, diz o padre Nuno que é quem faz as entrevistas, dando largas à sua formação em Comunicação Social.
“Tem sido interessante, está num crescendo. Não posso dizer que esteja a ser um sucesso, mas também não é esse o objetivo. O objetivo é dar a conhecer estas histórias e um testemunho suscita o testemunho de outros”, diz.
Com o Natal à porta, a marca digital também se vai fazer notar. As regras ditadas pelo Governo para a quadra permitem a realização de celebrações que, aqui em Benfica, mais uma vez, serão transmitidas também online.
“Vamos ter duas missas do Galo, porque, com as limitações, só podem estar 70 pessoas dentro da Igreja e a Missa do Galo está sempre muito cheia. Para permitir a mais pessoas poderem participar, celebramos duas Missas do Galo e uma dessas duas celebrações será transmitida na noite. Depois no dia de Natal, vamos transmitir a do meio-dia que é aquela que habitualmente transmitimos”, informa o padre Nuno.
Satisfeito com o trabalho que tem sido feito na sua paróquia, o padre Nuno garante que não são exemplo único “Tenho-me apercebido que há muitas paróquias para o Norte e também no Centro do país que estão a apostar muito na tecnologia e nesta forma de poder chegar às pessoas", refere.
"Há este caminho, está a ser feito este caminho e a pandemia veio precipitar isto”, remata.