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Papa à Cúria romana. Crise pode ser um tempo de graça e oportunidade

21 dez, 2020 - 11:54 • Aura Miguel

Pandemia pode ser “uma grande ocasião para nos convertermos e recuperarmos a autenticidade”. Mesmo no meio da experiência da escuridão, há lições a retirar para o futuro, defende Francisco.

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O flagelo da pandemia é, para o Papa, “um teste considerável e, ao mesmo tempo, uma grande ocasião para nos convertermos e recuperarmos a autenticidade”. No seu discurso de Natal aos membros da Cúria romana, Francisco fez uma reflexão sobre o significado da crise em geral e dos benefícios que dela se podem retirar, mesmo em tempos de Covid-19.

“Este é o Natal da pandemia, da crise sanitária, económica, social e até eclesial que atingiu, sem distinções, o mundo inteiro. A crise deixou de ser um lugar-comum dos discursos e da elite intelectual para se tornar uma realidade partilhada por todos”, afirmou. Por isso, este flagelo pode tornar-se “uma grande ocasião para nos convertermos e recuperarmos a autenticidade”.

Francisco traçou um percurso das várias crises através da Bíblia e recordou que nem mesmo Jesus foi poupado, mas que Deus esteve sempre presente, ainda que por vezes silencioso.

“O nosso tempo também tem os seus problemas, mas possui igualmente o testemunho vivo de que o Senhor não abandonou o seu povo, com a única diferença de que os problemas vão parar imediatamente aos jornais, enquanto os sinais de esperança fazem notícia só depois de muito tempo e... nem sempre”, alertou o Papa.

Neste sentido, a crise pode ser uma oportunidade. “Quem não olha a crise à luz do Evangelho limita-se a fazer a autópsia dum cadáver. Estamos assustados com a crise não só porque nos esquecemos de a avaliar como o Evangelho nos convida a fazê-lo, mas também porque olvidamos que o Evangelho é o primeiro a colocar-nos em crise. Mas, se reencontrarmos a coragem e a humildade de dizer em voz alta que o tempo da crise é um tempo do Espírito, então, mesmo no meio da experiência da escuridão, da fraqueza, da fragilidade, das contradições, da confusão, já não nos sentiremos esmagados, mas conservaremos sempre a confiança íntima de que as coisas estão prestes a assumir uma forma nova, nascida exclusivamente da experiência duma graça escondida na escuridão”.


O Santo Padre também exortou cada um dos seus colaboradores a “não confundir a crise com o conflito”.

“São duas coisas diferentes. A crise geralmente tem um desfecho positivo, enquanto o conflito cria sempre um contraste, uma competição, um antagonismo aparentemente sem solução, entre sujeitos que se dividem em amigos a amar e inimigos a combater, com a consequente vitória de uma das partes.”

As consequências destas divisões favorecem “o crescimento ou a afirmação de certas atitudes elitistas e de ‘grupos fechados’ que promovem lógicas restritivas e parciais, que empobrecem a universalidade da nossa missão”.

O Papa conclui que “só morrendo para uma certa mentalidade é que conseguiremos também abrir espaço à novidade que o Espírito suscita constantemente no coração da Igreja.”

E como “a crise é movimento, faz parte do caminho, cada um de nós, independentemente do lugar que ocupa na Igreja, interrogue-se se quer seguir Jesus com a docilidade dos pastores ou com a autoproteção de Herodes, segui-Lo na crise ou defender-se d’Ele no conflito”, afirmou.

No final, o Papa pediu aos cardeais e membros da Cúria uma prenda de Natal: a “colaboração generosa e apaixonada no anúncio da Boa Nova sobretudo aos pobres”.

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