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Postal de Quarentena da Clausura

“Com a pandemia tocámos a fome de quem não entende tanto sofrimento”

14 jan, 2021 - 07:31 • Concepcionistas de Campo Maior*

Se os médicos são a linha da frente, as monjas de clausura são a retaguarda espiritual no combate à Covid-19. Este postal vem de um mosteiro em Campo Maior. No dia depois de ter sido enviado quase toda a comunidade foi diagnosticada com Covid-19.

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Somos uma comunidade contemplativa da Ordem da Imaculada Conceição situada em Campo Maior. Uma das nossas principais missões é falar a Deus das alegrias, dores, sofrimentos e esperanças da humanidade. A monja é comparada como uma janela aberta para o mundo e outra janela aberta para escutar a delicada voz de Deus que se deixa escutar na suave brisa dos acontecimentos quotidianos.

Como monjas de clausura foi assim que vivemos estes tempos desde que começaram as primeiras ameaças da pandemia. Desde o nosso claustro fechado apenas aberto para o céu, sabemos que a resposta a todo o sofrimento e dor só pode chegar do Alto, olhando para o Céu.

Nesta nossa forma de vida oferecemos cada dia e cada noite, velando pelo mundo pois percebemos que nos foi confiada a intercessão. Levamos o peso da humanidade porque é o nosso peso, não saímos do mundo por nos desinteressarmos dele, mas para nos oferecer por ele. A atitude da irmã de clausura é como aquela que vem descrita no livro das lamentações “levanta-te, grita durante a noite, no começo das vigílias; derrama o teu coração como água perante a face do Senhor. Ergue para Ele as mãos, pela vida dos teus filhos que desfalecem de fome por todos os recantos das ruas” (Lm 2,19). Com a pandemia tocamos esta fome de tantas pessoas que não entendem o sentido de tanto sofrimento e imploramos o consolo do nosso Deus.

Quando alguém entra na clausura traz consigo muitas pessoas. Vir para o mosteiro é o mesmo que dizer “sempre terás alguém a rezar por ti”. Foi isto que nos levou a criar uma página de oração em particular, com nome concreto por cada pessoa que se inscrevesse. Foi impressionante ver a adesão a esta iniciativa e pudemos comtemplar como o ser humano grita a Deus desde o mais profundo do seu ser mesmo sem o saber.

Nestes tempos conturbados em que para a maioria das pessoas deixou de haver templo físico, quando foram fechadas as Igrejas, fomos convidados a cantar jubilosamente em nossas casas (salmo 149) porque onde há adoração há um templo vivo. É mesmo isto que Deus procura verdadeiros adoradores em espírito e verdade (Jo 4, 24). Este foi o evangelho do dia 15 de março de 2020 e contemplamos como um apelo a viver a vida de fé desde dentro, do mais profundo do nosso coração. Fomos rasgados nas nossas seguranças, mas desde esta ferida Deus continua a gerar vida e quer adoradores que sabem passar da morte à vida.


*A comunidade de Campo Maior da Ordem da Imaculada Conceição é composta por 16 monjas de clausura. No passado dia 10 de janeiro, depois de este postal ter sido escrito e enviado, 14 dessas irmãs foram diagnosticadas com Covid-19. Algumas estão com sintomas, embora sem grande gravidade, por enquanto.

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