17 jan, 2021 - 15:26 • Henrique Cunha
O Presidente da Associação Movimento de Romeiros de São Miguel, João Carlos Leite diz à Renascença que a defesa da saúde publica inviabiliza esta romaria em que se percorrem as estradas da maior ilha do arquipélago dos Açores.
O romeiro descreve um cenário em que no contexto das caminhadas “as pessoas são acolhidas duas a duas em casa de famílias” para descansar e depois retomar a “viagem” por volta das “quatro da manhã”. E esta é uma rotina “durante sete dias”. Nos casos dos concelhos menos habitados, os romeiros, “por norma pernoitam em salões que implicam a movimentação de pessoas”, porque “é preciso juntar grupos de pessoas para ajudar na logística, sobretudo senhoras que preparam entre outras coisas as refeições”, e isto obriga “ajuntamentos que proporcionam a disseminação do vírus”.
Por isso, João Carlos Leite diz que “por uma questão de cidadania, e de saúde pública não há condições absolutamente nenhumas de, nesta situação pandémica, de sair” e “depois de consultar a direção regional de saúde tomamos a decisão do cancelamento das romarias”.
Habitualmente - todos os anos - o tempo da quaresma é aproveitado por cerca de 2.500 romeiros para percorrerem a ilha em oração.
Nas palavras de João Carlos Leite “a quaresma na ilha de São Miguel é um Santuário a céu aberto porque há uma grande envolvência de diversos valores evangélicos como o acolhimento, a partilha, a atenção e a oração”. O Presidente da associação de Romeiros de São Miguel considera “verdadeiramente indescritível o que se passa durante todas as quaresmas”, e garante que estas romarias “são muito mais do que meras caminhadas” pois “envolvem 55 ranchos, e cerca de 2 mil e 500 romeiros; grupos muito heterogéneos que percorrem toda a ilha, numa semana em que os diversos níveis sociais, culturais e académicos são todos iguais”.
“Na caminhada durante uma semana conseguimos abstrairmo-nos de absolutamente tudo, concentramo-nos exclusivamente na nossa relação uns com os outros, na oração e na meditação”; sublinha o Presidente da Associação dos Romeiros de São Miguel que insiste na valorização do papel das famílias nesta iniciativa, pois “as famílias disponibilizam o seu melhor quarto de dormir, disponibilizam o banho e mantêm de amizade, de carinho de atenção e de partilha” que são “autênticos valores evangélicos”. João
Carlos Leite fala mesmo de “uma teologia de afetos, ou seja, a vivência do Evangelho, mas de uma maneira afetuosa”.
A associação está a desenvolver um plano de resgate do património das romarias que pretende registar as Romarias Quaresmais de São Miguel no Património Cultural e Imaterial Nacional.
João Carlos Leite alude a uma iniciativa que é transversal a toda a Ilha, com características únicas. O responsável revela que “praticamente todas as paroquias se organizam com ranchos de romeiros para percorrem a ilha durante uma semana cantando, rezando, louvando e meditando”. Durante as seis semanas de romaria, “todos os sábados estão a percorrer a ilha de São Miguel à volta de mil peregrinos”.
“Uma grande parte da comunidade micaelense pede-nos orações; a chamada reza pedida” e isto leva a “uma rede de oração indescritível porque a comunidade reza pelos peregrinos que estão em peregrinação e os romeiros rezam pelas súplicas que a comunidade nos faz”.
As romarias quaresmais de São Miguel completam 500 anos em 2022. De acordo com a tradição tiveram origem na sequência de terramotos e erupções vulcânicas registadas no Século XVI em São Miguel, que arrasaram Vila Franca do Campo e causaram enorme destruição na Ribeira Grande.