23 jan, 2021 - 17:37 • Henrique Cunha
Está inaugurado o Museu do Holocausto do Porto, um espaço que “conta também a história, até agora desconhecida, do papel que teve a comunidade judaica do Porto em resgatar milhares de refugiados judaicos que passaram pela cidade”.
A revelação é feita à Renascença por Michael Rothwell, representante da comunidade judaica do Porto.
O Museu foi inaugurado na passada quarta-feira e contou com a presença do bispo do Porto, D. Manuel Linda, e também do representante da comunidade muçulmana na cidade.
Este é o primeiro museu do género na Península Ibérica, um espaço que reproduz os dormitórios do campo de concentração de Auschwitz, assim como uma sala de nomes, para além de corredores que incluem nas suas paredes fotografias que retratam o antes, o durante e o depois da tragédia.
Em entrevista à Renascença, o responsável pela comunidade judaica no Porto fala da importância deste museu e reflete sobre os avanços dos populismos e extremismos na Europa e em particular em Portugal.
Qual é a relevância deste ser o primeiro do género na Península Ibérica? E como é inaugurar um museu em tempo de pandemia?
A missão deste museu português, localizado no Porto, é de educar – quer a população escolar, quer o público em geral - sobre o Holocausto. A sua inauguração e abertura ao público tiveram naturalmente que ser adiadas devido à grave situação pandémica e às regras em vigor.
Na quarta-feira realizámos uma pequena cerimónia religiosa de dedicação do museu com a presença dos nossos rabinos, do bispo e do presidente da comunidade muçulmana.
Quando a sociedade estiver novamente aberta, o museu prosseguirá com a sua missão de educação, em cooperação com o projeto nacional Nunca Esquecer.
Este museu ensina-nos sobre o que é o Holocausto?
O museu ensina sobre o Holocausto, mas também sobre a vida judaica na Europa antes e depois do Holocausto. Conta também a história, até agora desconhecida, do papel que teve a comunidade judaica do Porto em resgatar milhares de refugiados judaicos que passaram pela cidade.
No contexto atual de proliferação dos populismos e extremismos, quão é importante este exercício de memória?
Na verdade, a história europeia contém muitos episódios de antissemitismo violento, entre os quais se destacam a Inquisição e o Holocausto – e que nos deram as palavras gueto, Inquisição, expulsão, Holocausto. A memória deve incidir sobre a totalidade destes fenómenos.
O Holocausto e o nazismo são uma face – a mais atroz - do problema de antissemitismo. Quando hoje vemos os judeus serem alvo das mesmas acusações do passado, das mesmas técnicas, dos mesmos estereótipos do dinheiro e dos negócios, das mesmas teorias da conspiração, então estamos perante antissemitas, sejam quais forem as orientações políticas, religiosas ou culturais dos seus autores.
Como olha para a realidade portuguesa, em que um país considerado tolerante começa a apresentar pensamento político extremo?
Todos os extremismos, de direita ou esquerda, são condenáveis. E a História mostra que os extremismos - quer da extrema direita, quer da extrema esquerda - propiciam fenómenos de antissemitismo, dos quais o Holocausto foi o mais violento. Em geral os antissemitas não se reconhecem como tal e atribuem essa faceta apenas aos adversários políticos.
Como é que a comunidade israelita do Porto está a viver estes tempos de Covid-19?
Com as limitações que a grave situação pandémica impõe. A comunidade é composta, principalmente, de membros de uma faixa etária bastante jovem e, por isso, o número de casos de infeção por Covid-19, até agora, tem sido bastante reduzido, e com sintomas ligeiros.