23 jan, 2021 - 11:24 • Aura Miguel
Este sábado, o Papa visou os jornalistas. Francisco propôs o método “ir ver” aos profissionais de comunicação social, lembrando que é a melhor forma para uma comunicação autêntica.
Na mensagem publicada para o 55.º Dia mundial das Comunicações Sociais (que se assinala a 16 de maio 2021), o Santo Padre considera urgente “sair da presunção cómoda do já sabido” e mexer-se: Ir ver, estar com as pessoas, ouvi-las e recolher as sugestões da realidade.
O “ir ver”, escreve Francisco, “é o mais simples para se conhecer uma realidade; é a verificação mais honesta de qualquer anúncio, porque, para conhecer, é preciso encontrar, permitir à pessoa que tenho à minha frente que fale, deixar que o seu testemunho chegue até mim”.
O Papa propõe este método para toda a expressãoo comunicativa “que queira ser transparente e honesta, tanto na redação dum jornal como no mundo da Internet, tanto no sermão comum da Igreja como na comunicação política ou social”.
Preocupado com o crescente “nivelamento em jornais fotocópia” ou em noticiários de televisão, rádio e sites que são substancialmente iguais, onde os géneros da entrevista e da reportagem perdem espaço e qualidade em troca duma informação pré-fabricada e autoreferencial, que cada vez menos consegue intercetar a verdade das coisas e a vida concreta das pessoas”, o Santo Padre alerta também para a crise editorial que “corre o risco de levar a uma informação construída nas redações, diante do computador, nos terminais das agências, nas redes sociais, sem nunca sair à rua, sem “gastar a sola dos sapatos”, sem encontrar pessoas para procurar histórias ou verificar com os próprios olhos determinadas situações.
Neste contexto, “há o risco de narrar a pandemia ou qualquer outra crise só com os olhos do mundo mais rico, de manter uma “dupla contabilidade”. Por exemplo, na questão das vacinas e dos cuidados médicos em geral, pensemos no risco de exclusão que correm as pessoas mais indigentes”, desabafa o Papa.
“Quem nos contará a expectativa de cura nas aldeias mais pobres da Ásia, América Latina e África? Deste modo as diferenças sociais e económicas a nível planetário correm o risco de marcar a ordem da distribuição das vacinas anti-covid, com os pobres sempre em último lugar.”
Francisco reafirma que o direito à saúde para todos não pode ser “esvaziado da sua valência real”, não só nos países mais pobres, mas também no mundo dos mais afortunados, onde “permanece oculto em grande parte o drama social das famílias decaídas rapidamente na pobreza”, realidades que “causam impressão, mas sem merecer grande espaço nas notícias”, como por exemplo “as pessoas que, vencendo a vergonha, fazem a fila à porta dos centros da Cáritas para receber uma ração de víveres”.