26 jan, 2021 - 18:05 • Henrique Cunha
“Os educadores devem pugnar por fazer emergir a nobreza de caracter das pessoas”, neste tempo de emergência pandémica, considera o psiquiatra Vitor Cotovio, que alerta para o facto de, em tempo de emergência “o ser humano ser levado a uma dialética de extremos”, ou seja, “em emergência vê-se a nobreza de caracter das pessoas, mas também a mesquinhez, e nós temos consciência disso, isso vê-se em qualquer lugar”.
Durante uma formação online sobre “liderança ética em contexto escolar de pandemia”, organizada pela Associação Portuguesa de Escolas Católicas, o especialista lembrou que “uma pandemia, uma emergência, uma catástrofe puxa muito por aquilo que são estes extremos”, e, portanto, “nós educadores devemos pugnar por aquilo que é o fazer emergir a nobreza de caracter das pessoas”, tendo para isso que “dar o exemplo”. Ou melhor - nas palavras do psiquiatra - as escolas, os educadores têm de pugnar pela exemplaridade que “está para além do exemplo, pois a exemplaridade é a consciência que eu tenho que ter do impacto das minhas ações”.
“As pessoas estão a olhar para nós (educadores, professores) e quem está a crescer está a olhar para nós, e os pais estão a olhar para nós, e os professores estão a olhar para os diretores e vice-versa; e é neste registo sistémico, num paradigma que eu gosto muito do Edgar Morin, que é o paradigma da complexidade em que o todo está na parte e a parte está no todo; é fundamental o papel das escolas e dos educadores e dos formadores”; lembra o psiquiatra. Até porque nos momentos de crise” quem está a ser educado tem os ouvidos um bocadinho tapados para quilo que são os conceitos, mas tem os olhos muito bem abertos para aquilo que são os exemplos e a escola é, ou deve ser um laboratório de exemplos”.
Noutro plano, Vitor Cotovio lembra que “a palavra, quando bem usada, tem um efeito transformador, tem um efeito educativo, tem um efeito terapêutico” e alerta para o facto de que “a palavra mal usada, mal dita, é altamente tóxica e pode ser patogénica e pode ser mortal”, e portanto “nós temos de ter a consciência que neste momento temos a palavra a ser gerida com mais cuidado, pois pôr cuidado na palavra é pôr cuidado no gesto e é pôr cuidado na forma como não estando ao pé estamos na mesma presentes”.
Por outro lado, Vitor Cotovio afirma que “quando estamos em pandemia não se pode esquecer a saúde mental das pessoas”. O especialista sustenta que “não se pode pensar agora um país a sair de uma pandemia sem se pensar na saúde mental de todos”, e que “isso começa nas escolas”. “Se nós não pensarmos na saúde mental das pessoas estamos a cometer um erro estratégico no que diz respeito à recuperação – quer sanitária, quer económico-financeira - do país”; alerta o psiquiatra ao mesmo tempo que reforça a convicção de que “é nas escolas que isso se desenvolve; é aí que nós temos de semear”.
Para que assim seja, Vitor Cotovio defende que as escolas, os professores os educadores “nós temos de ter a consciência, como diz aquele provérbio chinês: se nós queremos planear a um ano semeamos milho; se nós queremos planear a dez anos plantamos uma árvore; mas se nós queremos planear a cem anos então educamos as pessoas”.