29 jan, 2021 - 15:51 • Ricardo Vieira
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) manifesta a sua “tristeza e indignação” com a aprovação pela Assembleia da República da lei que autoriza a eutanásia e o suicídio assistido, que consideram um "retrocesso cultural sem precedentes".
Os bispos portugueses referem, em comunicado, que esse sentimento é agravado pelo facto de se “legalizar uma forma de morte provocada no momento do maior agravamento de uma pandemia mortífera, em que todos queremos empenhar-nos em salvar o maior número de vidas”.
“É um contrassenso legalizar a morte provocada neste contexto, recusando as lições que esta pandemia nos tem dado sobre o valor precioso da vida humana, que a comunidade em geral e nomeadamente os profissionais de saúde tentam salvar de modo sobre-humano”, sublinha a CEP.
A Conferência Episcopal reforça que a eutanásia viola a Constituição da República Portuguesa, por “ofender o princípio da inviolabilidade da vida humana”, e terá ainda de ser “sujeita a fiscalização”.
“Não podemos aceitar que a morte provocada seja resposta à doença e ao sofrimento”, defendem os bispos, na mesma nota.
Parlamento
Lei agora aprovada estabelece que a morte medicame(...)
“Aceitar que o seja é desistir de combater e aliviar o sofrimento e veicular a ideia errada de que a vida marcada pela doença e pelo sofrimento deixa de merecer proteção e se torna um peso para o próprio, para os que o rodeiam, para os serviços de saúde e para a sociedade no seu todo”, assinalam.
A sociedade nunca poderá “desistir de combater e aliviar o sofrimento, físico, psicológico ou existencial”, refere a CEP, “e aceitar que a morte provocada seja resposta para essas situações”.
Pelo contrário, a resposta à doença e ao sofrimento deverá ser “a proteção da vida sobretudo quando ela é mais frágil por todos os meios e, nomeadamente pelo acesso aos cuidados paliativos, de que a maioria da população portuguesa está ainda privada”.
A Conferência Episcopal defende que a legalização da eutanásia em Portugal, além de representar uma “política legislativa lesiva da dignidade de toda a vida humana”, é também um “retrocesso cultural sem precedentes, caraterizado pela absolutização da autonomia e autodeterminação da pessoa”.
Os bispos portugueses prometem “reagir energicamente” e reforçam o propósito de “acompanhar com solicitude e amor todos os doentes, em todas as etapas da sua vida terrena e, de modo especial, na sua etapa final”.
Foi aprovado esta sexta-feira no Parlamento o diploma que legaliza a eutanásia em Portugal, em votação final global.
O Parlamento registou 136 votos a favor, 78 contra e quatro abstenções (duas do PSD e duas do PS).