04 fev, 2021 - 17:24 • Aura Miguel
O Papa Francisco participou esta tarde num evento virtual, organizado em Abu Dhabi, para assinalar o primeiro Dia Internacional da Fraternidade Humana.
Para Francisco, “a fraternidade hoje é a nova fronteira da humanidade” e não há alternativa. “Ou somos irmãos ou nos destruímos uns aos outros. Hoje não há tempo para indiferença. Não podemos lavar nossas mãos. Com a distância, com a indiferença, com o desprezo”, reafirmou o Papa.
“Ou somos irmãos, ou tudo desmorona. É a fronteira sobre a qual devemos construir, é o desafio do nosso século, é o desafio dos nossos tempos.”
O Dia Internacional da Fraternidade Humana foi estabelecido pela ONU para o dia 4 de fevereiro, de modo a coincidir com a data do documento que o Papa assinou com o grande imã da Universidade Al-Azhar, em Abu Dhabi, a 4 de fevereiro de 2019.
“Fraternidade quer dizer mão estendida, quer dizer respeito, quer dizer escutar com o coração aberto e firmeza nas próprias convicções”, reforçou esta quinta-feira o Papa nesta sessão virtual. “Somos irmãos, nascidos de um mesmo Pai. Com diferentes culturas e tradições, mas todos irmãos. E respeitando as nossas diferentes culturas e tradições, as nossas diferentes cidadanias, devemos construir esta fraternidade, sem a negociar.”
Francisco aproveitou ainda para sublinhar que este é “o momento da escuta, de aceitação sincera, da certeza de que um mundo sem irmãos é um mundo de inimigos". E alertou que “o desprezo é uma forma muito subtil de inimizade”. Por isso, “não podemos dizer: ou irmãos, ou não irmãos”, pois isso significa “ou irmãos, ou inimigos”. É que, “não é preciso haver guerra para fazer inimigos, basta o desprezo”, acrescentou. “Basta olhar para o outro lado e prescindir do outro, como se ele não existisse”.
Prémio Zayed 2021
Além do Papa Francisco, usaram da palavra o grande imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, o secretário-geral do Comissão para a Fraternidade Humana, o juiz Mohamed Mahmoud Abdel Salam e os vencedores do Prémio Zayed 2021. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foi um dos dois laureados.
O Papa agradeceu ao político português: “Quero dar os parabéns ao Secretário-Geral das Nações Unidas por este prémio e agradecer-lhe por todos os esforços que faz pela paz. Uma paz que só se consegue com o coração fraterno”.
O antigo primeiro-ministro português mostrou-se honrado e grato. António Guterres reafirmou o seu total compromisso, pessoal e da própria ONU, a favor da paz e do respeito pela dignidade humana. E, face às atuais ameaças à paz no mundo e “ao aumento da violência, divisões, racismo e extremismo de várias ordens, incluindo de caráter religioso”, Guterres considerou “fantástico” os testemunhos e o protagonismo de homens como o Papa Francisco e o grande imã Ahmad Al-Tayyeb.
A segunda laureada do Prémio Zayed 2021 foi uma mulher marroquina. Latifa Ibn Ziaten perdeu um filho, assassinado por terroristas e, desde então, dedica-se a sensibilizar as crianças e os jovens para a paz. “Uma mãe profundamente ferida pela morte de um filho nunca ficará curada”, testemunhou Latifa no evento desta quinta-feira, “mas é preciso romper a barreira dessa ferida e, apesar de perder um filho, sou agora mãe de muitos mais”.
O Papa agradeceu a Latifa Ibn Ziaten, cujas palavras “não foram ditas de ouvido, nem convencionalmente, mas ditas por convicção, uma convicção plasmada na dor, através das suas feridas”.
Francisco sublinhou que a vida desta mulher não ficou pelo ressentimento, mas que “através da dor de perder um filho – só uma mãe sabe o que é perder um filho – consegue dizer ‘somos todos irmãos’ e semear palavras de amor” e acrescentou: “obrigado por ser mãe do seu filho, de tantos meninos e meninas; por ser hoje a mãe desta humanidade que a escuta e aprende consigo: ou o caminho da fraternidade, ou irmãos, ou perdemos tudo.”