10 fev, 2021 - 09:06 • Olímpia Mairos
Os bispos da Nigéria estão preocupados com a onda de raptos que atingem sacerdotes, religiosas, catequistas e outros membros da Igreja naquele país e recusam-se a pagar resgates, por consideram que estes só colocariam em perigo os membros da Igreja.
“Pagar um resgate significa colocar todos à venda e em perigo todos os padres, irmãs e colaboradores da Igreja que se movem continuamente entre as aldeias, sem usufruir de qualquer tipo de conforto, mas sempre prontos a sacrificar-se pelo amor de Deus”, afirma o arcebispo de Abuja, D. Ignacio Kaigama.
As declarações do arcebispo à Fundação AIS surgem na sequência do sequestro do bispo Moisés Chikwe, da arquidiocese de Owerri, no final do ano passado.
De acordo com a fundação pontifícia, foi a primeira vez que um bispo da Igreja Católica foi sequestrado na Nigéria.
“Antes, a 15 de dezembro, o padre Valentin Ezeagu esteve também em cativeiro, após ter sido raptado por homens armados. A sua libertação aconteceu ao fim de 36 horas. Em novembro, o padre Matthew Dajo, da arquidiocese de Abuja, foi raptado e libertado após dez dias de cativeiro. Bem mais trágico foi o rapto, a 15 de janeiro, do padre John Gbakaan, da Diocese de Minna e que acabaria assassinado em menos de 24 horas”, enumera a AIS em comunicado.
O arcebispo de Abuja, fala numa “doença que se está a espalhar”, sem que haja um “esforço significativo” por parte das autoridades para o impedir.
Na Nigéria, os raptos estão a tornar-se em algo comum e são muitas vezes associados à atuação de grupos terroristas, nomeadamente o Boko Haram.
“Os raptos já duram há muito tempo e as pessoas pensavam que isso não aconteceria aos líderes religiosos”, observa o arcebispo, explicando que quando acontece [um caso desses], é uma grande notícia”.
D. Ignacio Kaigama alerta ainda que “há muitos nigerianos que também são raptados, que sofrem o mesmo destino, mas sem que ninguém saiba disso. São aquilo a que eu chamaria de vítimas silenciosas. E há muitas delas”, afirma.
O bispo de Abuja lamenta toda a violência que se está a abater sobre pessoas inocentes e classifica como “desconcertante” a incapacidade de as autoridades lidarem com esta onda de raptos e de identificarem os responsáveis.
Na Nigéria, a Igreja Católica é respeitada, facto que atribui visibilidade acrescida aos casos de padres ou religiosas que possam ser sequestrados.
“Os criminosos, bandidos ou o que quer que lhes chamem, estão cientes de que quando tocam num padre ou numa freira católica rapidamente [isso] se torna notícia”, explica D. Ignacio, acrescentando tratar-se de “uma estratégia dos terroristas”.
“Atacam onde as repercussões são mais fortes e é isso que conseguem, atacando padres e religiosos católicos”, explica.
O arcebispo de Abuja afirma compreender as limitações dos agentes da autoridade que têm de lidar muitas vezes com criminosos “que têm armas mais sofisticadas”, mas não deixa de apelar ao Governo para investir mais nas questões de segurança.
Na Nigéria, lembra ainda o arcebispo, passou a ser quase normal haver casos de pessoas raptadas, como se a sociedade estivesse anestesiada face a essa realidade. E lembra as raparigas de Chibok, incluindo a jovem Leah Sharibu que continuam em cativeiro ao fim de vários anos.
Segundo a AIS, em Chibok, elementos do Boko Haram assaltaram uma escola feminina e raptaram 276 alunas, no dia 14 de abril de 2014, calculando-se que cerca de uma centena continue nas mãos dos terroristas. Em Dapchi, no nordeste do país, no dia 19 de fevereiro de 2018, os terroristas levaram 110 raparigas de uma escola. Todas acabariam por ser libertadas, com exceção de Leah Sharibu, a única cristã do grupo, por ter recusado converter-se ao Islamismo como os terroristas exigiam.