11 fev, 2021 - 14:30 • Eunice Lourenço
A família monástica de Belém da Assunção da Virgem e de São Bruno, mais conhecida como Monjas de Belém, decidiu criar um gabinete de escuta que permita “melhorar o acolhimento e a escuta das pessoas que foram feridas” por aquela ordem. Além disso, está a rever as suas constituições e estatutos numa altura em que também celebra os 70 anos da sua fundação.
Esta família monástica tem 29 mosteiros distribuídos por 15 países, entre os quais Portugal. Foi fundada em 1950 e tem cerca de 550 irmãs que vivem uma vocação de silêncio e solidão, mas também de grande cuidado com a beleza da liturgia e do trabalho artesanal que fazem e é vendido para sustento dos mosteiros.
Nos últimos anos, sobretudo em França, algumas irmãs que deixaram a comunidade queixaram-se de pressão psicológica, o que levou a que o Papa tenha decidido que fosse feita uma visita apostólica aos mosteiros em França em Israel, que foi feita entre 2015 e 2017, pelos assistentes apostólicos, padre Jean Quris (diocese de Angers) e madre Geneviève (OSB). Também em Portugal , mais recentemente, a ordem esteve envolvida numa polémica lançada pelo pai de uma postulante.
Na sequência dessa visita apostólica e das suas recomendações, o Conselho Permanente das Monjas decidiu empreender o que chama de “trabalho de verdade e de reforma”, como se lê no comunicado enviado à Renascença. “Este caminho passou pela tomada de consciência progressiva e dolorosa das consequências que, em algumas irmãs, teve uma conceção de autoridade idealizada, ou fundada numa má compreensão da obediência monástica, conduzindo a abusos de autoridade ou de consciência e a dependências afetivas”, reconhecem as responsáveis pela comunidade.
“Em nome da comunidade das monjas, querem expressar como foi profunda a sua tomada de consciência das feridas e traumas que tais disfunções provocaram nestas irmãs, na sua autoestima, no seu livre-arbítrio e na sua relação de confiança com a Igreja, necessitando agora de uma reconstrução lenta e difícil. As responsáveis da Família monástica humildemente pedem-lhes perdão”, escrevem no comunicado.
É nesse caminho que surge a criação do gabinete de escuta. “Em França, este é composto por dois psicólogos peritos nestes assuntos, por um abade beneditino emérito, por uma monja beneditina, por um antigo magistrado e por um advogado igualmente formado em direito canónico. Este gabinete de escuta tem como missão: receber os testemunhos; propor ao Conselho Permanente o desenvolvimento a dar ao processo, de modo a ser feita justiça às vítimas; fazer recomendações para a continuação do trabalho de reforma”, lê-se no mesmo comunicado, segundo o qual estão a ser estudadas soluções para receber testemunhos noutras línguas.
Também neste caminho, vão empreender a reformulação das constituições, as regras de vida desta comunidade, um trabalho que será acompanhado por dois conselheiros indicados pelo Dicastério para a Vida Consagrada. “Este trabalho é realizado com a consulta regular das professas perpétuas, permitindo reflexões e trocas de ideias num processo de sã liberdade de expressão e de tomada de consciência dos hábitos a corrigir. Os textos definitivos serão propostos à votação no próximo Capítulo Geral das monjas previsto para 2021 e em seguida serão submetidos à aprovação de Roma, tornando-se assim os textos de referência das irmãs de Belém”, anuncia a ordem.