12 fev, 2021 - 20:11 • Filipe d'Avillez
O fundador da organização católica Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) é acusado de ter abusado sexualmente de uma mulher. A acusação, que foi divulgada publicamente na quarta-feira, foi feita já depois da morte do padre Werenfried van Straaten, mas é considerada credível pela fundação.
Segundo um comunicado publicado no site internacional da AIS, a queixa foi feita inicialmente em 2010 por uma ex-funcionária, cuja identidade não é revelada. Na altura, explica a atual direção, a queixosa foi contactada e escutada. Tinha 23 anos no momento em que o alegado abuso ocorreu, em 1973.
“A administração da organização de caridade levou a acusação muito a sério, procurou contacto imediato com a pessoa em questão e ouviu-a numa conversa pessoal. O seu relato parecia credível para a gestão da organização. Por isso, a instituição concordou em pagar uma compensação financeira à pessoa afetada a fim de comprovar o esforço para reconhecer o seu sofrimento e tentar mitigar as consequências para a mesma”, lê-se.
No mesmo documento, que foi elaborado depois de a informação do alegado caso de abuso ter sido publicada num jornal alemão, explica-se que o pagamento de uma indemnização de 16 mil euros não teve por intenção silenciar a vítima, mas que foi ela quem pediu sigilo sobre toda a situação. Diz-se ainda que não existem quaisquer indícios de outros casos semelhantes.
De resto, a AIS fez questão na altura de informar as autoridades eclesiásticas, não tendo sido aberto qualquer procedimento criminal uma vez que o fundador já tinha morrido sete anos antes. A inexistência de qualquer tipo de prova documental também impede uma investigação mais aprofundada do incidente, restando apenas a descrição da alegada vítima, que todavia foi considerada credível.
A acusação surgiu num contexto particular na história da fundação, que estava a meio de uma visitação apostólica, que durou de 2009 a 2011. A visitação – termo usado pela Igreja e que equivale a uma investigação ou inspeção de uma ordem, movimento ou diocese, por exemplo – não tinha nada a ver com eventuais casos de abusos, mas sim com a reorganização da gestão da AIS, que na altura se adaptava a uma nova fase, depois da morte do seu fundador.
Na altura, explica ainda a fundação, já havia grupos de fiéis que procuravam iniciar um processo de beatificação do padre Werenfreid. Quando o bispo responsável pela visitação soube da acusação informou por escrito várias entidades, tanto da Santa Sé como da ordem original do padre van Straaten e o bispo ordinário da diocese da alegada vítima. Foi esta carta que, nos últimos dias, foi divulgada pela imprensa. O objetivo da carta era, entre outros, o de travar qualquer processo de beatificação.
A AIS informa que “como fundação pontifícia, nunca colocou tal processo em marcha e não tem interesse em iniciá-lo no futuro.”
No extenso documento publicado no site da organização explica-se ainda que existem ainda acusações sobre excessos no estilo de vida do sacerdote. “A acusação de comportamentos excessivos no estilo de vida é baseada em relatos individuais de consumo excessivo de álcool ou alimentos. A partir das informações de que dispomos, a alegação não pode ser confirmada”, lê-se.
A Renascença contactou o gabinete português da AIS, mas esta remeteu para o documento explicativo publicado no site da sede do movimento. A fundação Ajuda à Igreja que Sofre tem por missão auxiliar os cristãos perseguidos em todo o mundo. Entre os seus vários projetos incluem-se a reconstrução de casas de cristãos perseguidos pelo Estado Islâmico no Iraque, bem como o apoio direto a milhares de padres, religiosos e religiosas e comunidades nos cinco continentes.
A organização sempre teve o apoio da Igreja e da hierarquia e há cerca de 20 anos, depois do processo de reorganização a que foi sujeito, tornou-se mesmo uma fundação pontifícia, para sublinhar a relação estreita com a Santa Sé.