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“Comem cinco, seis pães. As pessoas chegam mesmo esfomeadas” ao pequeno-almoço de “O pão de Lázaro”

28 fev, 2021 - 09:00 • Olímpia Mairos

A resposta social criada a pensar nos sem-abrigo da cidade de Braga é atualmente procurada por outras pessoas que, face à pandemia de Covid-19, ficaram desprotegidas. A procura do pequeno-almoço disparou nos últimos tempos.

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Com a pandemia e o aumento da pobreza, está a crescer o número de pessoas que recorrem ao pequeno-almoço “Pão de Lázaro”. A procura já duplicou, situando-se nesta altura nas 22 refeições por dia. A iniciativa da Associação Hospitalária de S. Lázaro surgiu de um desafio lançado pelo arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, para dar resposta ao sem abrigo da cidade, mas, atualmente, é procurada também por outras pessoas.

“Neste momento, a Associação Hospitalar de São Lázaro está a dar o pequeno-almoço ao dobro das pessoas que era habitual e está também a fazer pequenas refeições para as pessoas poderem levar para casa e comerem durante o dia. Porque, de facto, essas pessoas que vivem na rua e da rua, neste momento, são uma grande franja de pessoas que estão desprotegidas”, conta à Renascença o coordenador do voluntariado, Jorge Teixeira.

Se antes as pessoas chegavam ao espaço onde o pequeno-almoço é servido diariamente, junto à Igreja dos Terceiros, à procura de um conforto matinal, atualmente chegam “com fome”.

“Antigamente, antes deste confinamento, as pessoas comiam um pão, dois pães com leite. Neste momento, as pessoas chegam mesmo esfomeadas, comem cinco pães, seis pães, comem o que lhes apetecer”, afirma Jorge Teixeira, acrescentando que “nota-se que já não é só aquele conforto matinal que as pessoas vão buscar, neste momento, as mesmas pessoas vão lá para matar a fome”.

O pequeno-almoço solidário conta com leite simples ou com cevada, cevada, pão com manteiga, compotas, marmelada, bolos e fruta.

“E quem procura esta resposta social?”, questionamos.

“Há de tudo. Há pessoas que vivem na rua, há pessoas que vivem em casas abandonadas e têm algum tipo de abrigo, há pessoas que vivem em quartos alugados, que tem alguns rendimentos, a maior parte deles tem o Rendimento Social de Inserção, que é muito pequeno, mas dá para alugar um quarto, mas, depois, não têm como passar o resto do dia, não têm dinheiro suficiente para as refeições e vão-se socorrendo das instituições de solidariedade”, afirma Jorge Teixeira, acrescentando que também estão a ser procurados por “bastante imigrantes”, realidade que não se verificava.

O coordenador do voluntariado da Associação Hospitalária de S. Lázaro observa que tem crescido sobretudo o número de pessoas que, apesar de terem um teto, não têm trabalho fixo e “vivem um bocadinho da solidariedade, da esmola”.

“E são precisamente essas pessoas que hoje estão a passar bastante mal, porque, com tudo fechado, não há igrejas abertas, não há pessoas a circular, portanto aquela pequena quantia de dinheiro que conseguiam através da esmola, através do arrumar do carro, de pequenos recados que faziam nas ruas, neste momento, essas pessoas estão sem qualquer tipo de rendimentos e não têm como comer”, alerta.

Por iniciativa do grupo de voluntários, constituído por 25 elementos, também está a ser providenciada roupa e agasalhos.

“Foi uma iniciativa dos nossos voluntários que começaram a fazer uma recolha de roupa e cobertores, sacos-cama e as pessoas ficam muito comovidas, porque estavam com dificuldade em arranjar roupa, porque agora está tudo fechado e as instituições, também, muitas vezes, estão a funcionar com as limitações desta pandemia, e, então, as pessoas viram que era possível levar um cobertor ou o saco-cama, levar um agasalho e estamos a manter esse tipo de iniciativa”, refere Jorge Teixeira.

A Associação também entrega máscaras, porque, às vezes, “aparecem com máscaras muito sujas, muito velhas”, álcool gel e o que eles vão precisando no dia-a-dia e que nós possamos, dentro das nossas limitações, oferecer”, acrescenta o responsável pelo voluntariado.

O pequeno-almoço é assegurado com a ajuda de empresas que fornecem géneros alimentares e de alguns particulares, onde se incluem os próprios voluntários da Associação Hospitalária de S. Lázaro.

“Há imensas pessoas que passam todos os dias para deixar um pacote de bolachas ou alguma fruta, queijo. E é com essas dádivas anónimas que temos conseguido. A associação não tem fontes de rendimento e temos conseguido fazer face a este aumento da procura dos pequenos-almoços”, conta Jorge Teixeira, que aproveita para “agradecer a tantas pessoas que anonimamente têm passado na associação e têm deixado os seus géneros”, para conseguirem “responder cabalmente a esta alta procura”.

O “Pão de Lázaro” está de portas abertas de domingo a domingo, entre as 8h00 e as 9h30, para ajudar não só os sem-abrigo como também pessoas que estão a atravessar dificuldades.

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  • Desabafo Assim
    01 mar, 2021 Porto 17:33
    Cada vez que passo por esta imagem vem a mim a revolta em uma estação de televisão ter filmado o rosto de uma adorável menina num contexto de miséria. Suponho que as reportagens passem por muitos olhos até serem editadas, tantos cegos. Muito se há-de falar sobre este assunto, saibam todas as fontes que cada vez que o voltarem a fazer geram em mim uma enorme revolta contra vós sem querer, porque sois cegos que não querem ver.

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