07 mar, 2021 - 13:15 • Filipe d'Avillez , Aura Miguel
Uma Igreja “viva”, um povo “santo e fiel”. É assim que Francisco descreve a comunidade cristã que encontrou nesta visita que tanto insistiu fazer ao Iraque.
O Papa celebrou missa com milhares de fiéis, este domingo, no estádio Franso Hariri, em Erbil, depois de ter passado por Mossul, a cidade que foi martirizada pelo Estado Islâmico, e por Qaraqosh, símbolo do renascimento da cultura cristã no país.
Tal como fez em todas as suas intervenções diante da comunidade cristã, Francisco voltou a insistir na questão da lógica da Cruz ser contrária à violência, ao ressentimento e à vingança.
“Como é fácil cair na armadilha de pensar que temos de demonstrar aos outros que somos fortes, que somos sábios; na armadilha de construirmos imagens falsas de Deus, que nos deem segurança! Na realidade, é o contrário. Todos nós precisamos do poder e da sabedoria de Deus revelada por Jesus na cruz”, disse.
“Aqui, no Iraque, quantos dos vossos irmãos e irmãs, amigos e concidadãos carregam as feridas da guerra e da violência, feridas visíveis e invisíveis! A tentação é responder a estes e outros factos dolorosos com uma força humana, com uma sabedoria humana. Jesus, ao contrário, mostra-nos o caminho de Deus, aquele que Ele mesmo percorreu e por onde nos chama a segui-Lo.”
Muitos dos cristãos que este domingo escutaram as palavras do Papa sofreram as agruras da ocupação do Estado Islâmico, perderam familiares, amigos, casas e negócios por causa da sua religião e vivem agora em campos de refugiados, divididos entre a vontade de começar de novo e o medo de que tudo se repita, que leva muitos dos que podem a fugir para o ocidente.
Francisco esteve na maior cidade cristã do Iraque,(...)
Refletindo sobre a passagem do Evangelho em que Jesus expulsa os vendilhões do templo, o Papa disse que a missão de Cristo é a de purificar os corações dos homens, incluindo das divisões artificiais que levam pessoas de diferentes etnias e religiões a voltarem-se umas contra as outras.
“Jesus não só nos purifica dos nossos pecados, mas torna-nos também participantes do seu próprio poder e sabedoria. Liberta-nos de um modo de entender a fé, a família, a comunidade que divide, contrapõe e exclui, para podermos construir uma Igreja e uma sociedade abertas a todos e solícitas pelos nossos irmãos e irmãs mais necessitados. E ao mesmo tempo revigora-nos para sabermos resistir à tentação de procurar vingança, que nos mergulha numa espiral de retaliações sem fim. Com a força do Espírito Santo, envia-nos, não para fazer proselitismo, mas como seus discípulos missionários, homens e mulheres chamados a testemunhar que o Evangelho tem o poder de mudar a vida”, explica Francisco.
O Papa terminou a sua homilia revelando a razão pela qual insistiu, contra todas as recomendações, em visitar o Iraque numa altura de pandemia e mediante o perigo de atentados.
“A Igreja no Iraque, com a graça de Deus, fez e continua a fazer muito para proclamar esta sabedoria maravilhosa da cruz, espalhando a misericórdia e o perdão de Cristo especialmente junto dos mais necessitados. Mesmo no meio de grande pobreza e tantas dificuldades, muitos de vós oferecestes generosamente ajuda concreta e solidariedade aos pobres e atribulados. Este é um dos motivos que me impeliu a vir em peregrinação até junto de vós, ou seja, para vos agradecer e confirmar na fé e no testemunho.”
“Hoje, posso ver e tocar com a mão que a Igreja no Iraque está viva, que Cristo vive e age neste seu povo santo e fiel”, concluiu o Papa.
Terminada a celebração da missa o Papa regressa a Bagdad, onde passará a noite. A viagem de volta para Roma só acontece na segunda-feira, após uma cerimónia de despedida, mas não haverá mais intervenções públicas de Francisco em solo iraquiano.