07 mar, 2021 - 09:18 • Filipe d'Avillez , Aura Miguel
O Papa Francisco disse este domingo aos cristãos do Iraque que agora é tempo de “reconstruir e recomeçar”.
Em visita à cidade de Qaraqosh, nos arredores de Mossul, Francisco viu os escombros e ouviu os relatos dos sobreviventes do Estado Islâmico e apelou a todos os cristãos que tenham a força de permanecer no Iraque, mantendo viva a herança de uma das comunidades cristãs mais antigas do mundo.
“Abraçai esta herança! Esta herança é a vossa força. Agora é o momento de reconstruir e recomeçar, confiando-se à graça de Deus, que guia o destino de cada homem e de todos os povos. Não estais sozinhos.”
“Este nosso encontro demonstra que o terrorismo e a morte nunca têm a última palavra. A última palavra pertence a Deus e ao seu Filho, vencedor do pecado e da morte. Mesmo no meio das devastações do terrorismo e da guerra podemos, com os olhos da fé, ver o triunfo da vida sobre a morte”, disse Francisco.
O encontro de Qaraqosh começou com um testemunho de uma mulher que vivia na cidade quando esta foi ameaçada pelo Estado Islâmico. Ela contou que, quando o grupo terrorista se aproximava, muitos residentes se dispuseram a ficar nas suas casas, estando dispostos a sofrer o martírio. Foi só quando morreram três jovens, vítimas de um projétil, que o resto da cidade decidiu salvar-se.
“Naquela manhã estávamos ocupados com as coisas de sempre e as crianças brincavam na frente de nossas casas, quando aconteceu um incidente que nos obrigou a sair. Ouvi um tiro de morteiro e corri para fora de casa. As vozes das crianças tinham-se calado enquanto os gritos dos adultos aumentavam. Informaram-me da morte de meu filho e de seu primo, e do jovem vizinho que se preparava para o casamento.”
“O martírio destes três anjos foi um aviso claro: se não fosse isso, o povo de Bagdede teria permanecido e cairia inevitavelmente nas mãos do ISIS. A morte dos três salvou toda a cidade”, disse Doha Sabah Abdallah.
“Não é fácil para mim aceitar esta realidade, porque a natureza humana muitas vezes se sobrepõe ao chamamento do espírito. No entanto, a nossa força, sem dúvida, vem de nossa fé na Ressurreição, uma fonte de esperança. A minha fé diz-me que os meus filhos estão nos braços de Jesus Cristo nosso Senhor. E nós, sobreviventes, procuramos perdoar o agressor, porque o nosso Mestre Jesus perdoou seus algozes. Imitando-o em nossos sofrimentos, testemunhamos que o amor é mais forte do que tudo”, concluiu.
Precisamente nesta linha, o Papa pediu à comunidade que tenha, toda ela, esta capacidade de perdoar o mal que lhe foi feita, salientando que isso não é incompatível com a necessidade de lutar por maior justiça. “O perdão é necessário por parte daqueles que sobreviveram aos ataques terroristas. Perdão: esta é uma palavra-chave. O perdão é necessário para permanecer no amor, para se permanecer cristão. O caminho para uma cura plena poderia ainda ser longo, mas peço-vos, por favor, que não desanimeis. É preciso capacidade de perdoar e, ao mesmo tempo, coragem de lutar. Sei que isto é muito difícil. Mas acreditamos que Deus pode trazer a paz a esta terra. Confiamos n’Ele e, unidos a todas as pessoas de boa vontade, dizemos ‘não’ ao terrorismo e à instrumentalização da religião.”
Neste terceiro dia da sua visita ao Iraque, Francisco fez ainda referência ao estatuto das mulheres, pegando no exemplo da imagem de Nossa Senhora que está no topo de uma das igrejas da cidade.