19 mar, 2021 - 06:30 • Olímpia Mairos
"Guardião do Redentor" é um novo devocionário dedicado a São José, lançado pelo Secretariado Nacional de Liturgia (SNL), para assinalar o ano especial que a Igreja lhe dedica, até dezembro.
O ano dedicado a São José foi convocado pelo Papa Francisco, para assinalar o 150.º aniversário da sua declaração como padroeiro da Igreja universal, feita pelo Beato Pio IX, a 8 de dezembro, de 1870.
Francisco publicou a Carta Apostólica ‘Patris Corde’ (com coração de pai), destacando que “depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José, seu esposo”.
Em entrevista à Renascença, o presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade, D. José Cordeiro, apresenta o esposo de Maria como o modelo atual da relação humana e da compreensão da vida como cuidado integral.
Como pode São José falar às famílias de hoje, ao género masculino, ao marido, ao pai? Considera que sociedade está aberta a esse modelo? Não será um modelo já “fora de moda”?
São José é sempre atual, é um de nós. A sua presença na família de Nazaré, uma família aparentemente difícil de entender, mas uma família onde o amor congrega, transforma, transfigura. E é figura essencial na relação com a esposa e com o filho. Há um autor italiano, D. Tonino Bello, um bispo que já faleceu, que dizia que talvez o maior sacrilégio da nossa civilização seja o de pensar que para fazer uma mesa basta madeira. Ele dizia: “Não, a madeira vem da árvore, a árvore vem da semente e da flor” e, por isso, para fazer uma mesa, um carpinteiro como José, precisa de uma flor, isto é, para não deixar apenas aos poetas esta beleza e o cuidado da vida. Por isso, São José é modelo atual da relação humana e da compreensão da vida como cuidado integral.
Considera que as exigências da sociedade atual favorecem a prática das virtudes que São José viveu, por exemplo o silêncio, numa sociedade tão barulhenta, a humildade, quando vinga quem chega à ribalta, é promovido quem exalta os seus méritos?
Um dos marcadores identitários de São José é a humildade e, ao mesmo tempo, o silêncio e o trabalho; o silêncio que fala, e não é aquele que está constantemente a aparecer, porque o bem não faz barulho e o barulho também não faz bem. E São José não é daqueles que fazem selfies, mas é aquele que cuida da esposa, do filho, dos outros e alguém também que sofre. A compreensão da vida ensina-nos que quem nunca sofreu, que se pergunte a si mesmo se alguma vez amou, porque o sofrimento e o amor estão interligados e isso só pode ser na humildade. Por isso mesmo é que ele é o modelo atual e algo a que este ano, dedicado a São José, também pode provocar em todos e em cada um de nós.
Ao trazer à luz e ao promover este Santo como modelo para os nossos tempos, não correrá a Igreja o risco de ser criticada por propor perfis humanos apagados, sem voz ativa, submissos?
O Papa Francisco diz que o desejo da criação deste ano de São José e da carta que escreveu - Com Coração de Pai – nasceu também neste tempo de pandemia e, sobretudo, olhando às pessoas mais comuns, que não aparecem, mas que são elas que fazem avançar a história da humanidade e os serviços essenciais e constitutivos de cada dia. É a lógica do dom, mais do que a lógica da meritocracia. A Igreja, ao propor São José como modelo, não é no sentido da submissão, mas da liberdade maior que nasce da humildade, que é andar na verdade, ter os pés assentes no húmus, na terra, mas o olhar e o coração a apontar para a frente e para o alto.
São José, de quem tão pouco nos falam os evangelhos e muito mais a devoção popular, qual o seu papel na caminhada da Igreja?
É um papel único. São José tem essa grande missão de ser o cuidador dos mistérios de Cristo e da sua esposa, Maria, e apresentá-lo assim à Igreja na ternura, na bondade, no silêncio, no trabalho, todos aqueles valores que nós admiramos em São José e que o Papa Francisco sublinhou nas sete características da paternidade de São José.
Porquê será que São José encontra mais devoção nas mulheres crentes que propriamente nos homens, quando, seria mais lógico que fosse um santo da devoção dos homens?
Há muitos homens que têm devoção a São José e ele é patrono da Igreja, patrono também da maioria dos seminários, institutos de formação sacerdotal e é um amor que nasce nas famílias, homens e mulheres indistintamente. É também aquele que é tido como o patrono do dia do Pai, dia 19 de março, como o dia da paternidade e ser pai não é só aquele que gera, mas aquele que cuida, que educa, que acompanha, que está presente e também apela à paternidade espiritual de sermos pais de outros filhos de outros pais, mas nessa atitude de acompanhamento livre, responsável, e de quem faz com que o outro cresça e seja mais pessoa. E isso está ao alcance de todos, de homens e mulheres.
O que é que mais admira nesta figura que a Igreja apresenta como modelo? Porquê?
Admiro a escuta aos sonhos de Deus. Ele é alguém que sonha em Cristo, à grande. Eu admiro a consequência disso, a coragem criativa e a confiança crente. É preciso, hoje, continuar a sonhar em grande, à luz da Palavra de Deus, e não termos medo de ser como São José e de irmos até ele, na sua intercessão. Pessoalmente, isso encoraja-me todos os dias.
O Secretariado das Comunicações Sociais da Diocese de Bragança-Miranda está a desafiar os diocesanos a fotografar a “imagem de São José existente na sua casa, paróquia, unidade pastoral ou instituição, e a enviar os retratos digitais para: comunicacao.diocesebm@gmail.com”.
A iniciativa é dirigida a leigos, consagrados, diáconos e sacerdotes, e pretende ajudar à motivação das comunidades paroquiais na vivência do ano dedicado ao padroeiro da Igreja Universal.
De acordo com o diretor do secretariado, Bruno Rodrigues, as fotografias devem fazer-se acompanhar de um texto que identifique o local bem como o nome do autor e serão publicadas na página de Facebook da Diocese até ao próximo dia 8 de dezembro de 2021.
No dia em que a Igreja celebra a solenidade de São José, o Papa Francisco inaugura o ano especial da família, ano “Família Amoris Laetitia”, sobre a beleza e a alegria do amor familiar, que terminará em 26 de junho de 2022, por ocasião do X Encontro Mundial das Famílias, em Roma, com o Santo Padre.