22 mar, 2021 - 13:10 • Aura Miguel , Ângela Roque
O secretário de Estado do Vaticano enviou, em nome do Papa Francisco, uma mensagem aos organizadores da Dia Mundial da Água, este ano subordinado ao tema “Dar valor à água”.
O cardeal Pietro Parolin recorda as preocupações de Francisco manifestadas na encíclica “Laudato Si” sobre “a água, como direito humano básico, fundamental e universal”, cujo acesso “deve ser garantido a todos os seres humanos, sem exceção, e de forma adequada, para que possam ter uma vida digna”.
Como, infelizmente, isso ainda não acontece, “este mundo tem uma grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água potável, porque é negar-lhes o direito à vida enraizado na sua dignidade inalienável”, escreve o Papa na mesma encíclica.
Além dos desequilíbrios causados pela “cultura da globalização, da indiferença e do desperdício”, a Santa Sé não esquece os efeitos das alterações climáticas que afetam as correntes dos rios e esgotam as águas subterrâneas, bem como a crise sanitária que veio agravar a ineficácia de tantos serviços hídricos.
Nesta mensagem, o cardeal Parolin recomenda maior solidariedade e sobriedade no estilo de vida, incluindo a própria linguagem, como por exemplo, “em vez de ‘consumo’ de água, passar a falar-se de ‘uso’, em função das nossas reais necessidades, respeitando assim as necessidades dos outros”.
E para acabar de vez com o desperdício, a comercialização a contaminação da água, a Santa Sé apela à colaboração entre os Estados, o setor público, o privado e os organismos intergovernamentais.
Igualmente urgente é a consolidação de “uma cobertura jurídica vinculativa e um apoio sistemático e eficaz para que a água potável chegue a todas as zonas do planeta, em quantidade e qualidade”.
Durante a oração do Angelus, no domingo, o Papa Francisco também já se tinha associado à celebração do Dia Mundial da Água, lamentando que este seja um bem que continua inacessível em muitos locais no mundo.
“Tantos irmãos e irmãs têm acesso a pouca água e muitas vezes contaminada. É necessário assegurar a todos água potável e serviços de higiene”, afirmou o Papa, convidando os crentes a refletir sobre este bem que é um “maravilhoso e insubstituível dom de Deus”.
“Para nós, crentes, a irmã água não é uma mercadoria, é um símbolo universal e é fonte de vida e saúde”, declarou Francisco.
A água tem sido uma preocupação permanente do Papa e do Vaticano. Francisco já alertou por diversas para o risco de uma guerra mundial por causa dos recursos hídricos.
Apesar do acesso à água e ao saneamento já estar reconhecido internacionalmente como um direito humano - uma resolução nesse sentido foi aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2010 -, em 2021 ainda há mais de dois mil milhões de pessoas que continuam a viver sem água potável no mundo.
Em março de 2020 a Santa Sé publicou o documento ‘Aqua fons vitae’ (Água, fonte de vida) onde, entre outras coisas, se desafiam as paróquias de todo o mundo a abandonarem o uso de garrafas de plástico e a investirem em sistemas “amigos do ambiente”. O documento baseia-se nos ensinamentos sociais dos vários Papas e no trabalho dos missionários e membros da Igreja que atuam em contextos difíceis.
Em junho de 2020 outro documento - que assinalou os cinco anos da encíclica ecológica e social ‘Laudato Si’ – também incluiu entre as suas principais preocupações o acesso à água potável como “um direito humano fundamental e universal”.
Para assinalar o Dia Mundial da Água o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral organizou uma série de seminários online, que vão decorrer até sexta-feira, dia 26. Responsáveis de congregações religiosas, estruturas da Igreja e organizações internacionais ou regionais, vão partilhar as suas experiências e reflexões com base nos documentos divulgados o ano passado pela Santa Sé.