09 abr, 2021 - 08:19 • Olímpia Mairos
O Centro Missionário Arquidiocesano de Braga (CMAB) vai enviar para Cabo Delgado, em Moçambique, um contentor com material agrícola, de carpintaria e de costura, lonas, tendas e cobertores.
É uma ajuda que pode fazer a diferença e que resulta da generosidade dos cristãos de Braga, que acolheram o apelo lançado pelo CMAB, através da campanha “Juntos por Cabo Delgado”.
“Recebemos imensas coisas, imensos bens, dentro daquilo que pedimos, que solicitamos. Posso destacar, por exemplo, material agrícola e de carpintaria que, provavelmente, as pessoas não têm em casa. Temos material para encher um contentor e se calhar ainda mais. O balanço é muito positivo, em termos de generosidade das pessoas”, conta à Renascença a coordenadora do Centro Missionário da Arquidiocese de Braga, Sara Poças.
Neste momento procede-se à triagem, à seleção e embalamento de todo o material, prevendo-se que em meados/final de abril o contentor partirá.
“Depois dependerá dos processos legais, da alfândega, mas até o final de abril queríamos ter o processo de envio concluído”, afirma Sara Poças, acreditando que existirá material suficiente para um outro contentor, caso seja solicitado por parte da Cáritas e da Diocese de Pemba.
Se é certo que o recente ataque à vila de Palma agravou ainda mais a já difícil situação vivida na província de Cabo Delgado com milhares deslocados, também é verdade que a necessidade de ajuda é cada vez mais emergente e necessária no Norte de Moçambique, para apoiar os habitantes, vítimas das ações dos terroristas e de doenças, como o a cólera ou a Covid-19.
A coordenadora do CMAB realça que a sua preocupação já vem desde 2017, ou seja, “desde que os conflitos começaram e desde que pessoas começaram a sofrer com as consequências destes ataques”.
O Centro Missionário mantém uma cooperação com a Diocese de Pemba e dentro desta cooperação “existe muito esta questão de sermos povo irmão, esta ligação, que, no fundo, nos preocupa e reza pelo povo, uns pelos outros. E, nesse sentido, obviamente, estando nós ligados e tendo também uma equipa, isso torna-nos ainda mais ligados e mais e mais preocupados com toda a situação”, explica Sara Poças.
Os relatos que têm chegado de Cabo Delgado ao centro missionário são os mesmos que chegam quase diariamente através dos meios de comunicação e que dão conta de uma vasta destruição em Palma, mortos e milhares de deslocados, com Pemba a não conseguir responder a tanta “miséria”.
Sara Poças observa que a “Igreja está a apoiar dentro do possível, quer no acolhimento das pessoas que vão chegando, quer, depois na reinserção na vida ativa, na rotina, no reassentamento das pessoas que vão chegando e que não têm assim tão cedo previsão de voltar às suas casas”.
De acordo com a coordenadora do CMAB, a Diocese de Pembas e a Cáritas têm estado muito empenhadas “nesta parte do reassentamento, através do apoio à construção de casas para as famílias, com os materiais que têm mesmo de ser comprados, e, depois, também no apoio para que as pessoas possam retomar a sua atividade que tinham antes ou ao cultivar a sua machamba”.
“Aquilo que nos foi solicitado para este contentor é um bocadinho também para isso. É material de agricultura, de carpintaria, de serralharia, de costura e, portanto, também será um apoio para que as pessoas possam retomar a sua vida”, assinala a responsável.
A arquidiocese de Braga tem uma missionária, a Andreia Araújo, desde outubro, na paróquia de Santa Cecília de Ocua, que foi dar continuidade ao trabalho que estava a ser desenvolvido por dois outros voluntários, o Rui e a Susana. À espera de poderem partir, está o padre Manuel Faria e a Fátima Castro, mas ainda não conseguiram os respetivos vistos para entrar em Moçambique.
“A Andreia está a apoiar os deslocados, dentro daquilo que é possível, que passa muito pelo apoio ao cultivo da machamba, porque os deslocados que se encontram no território da nossa missão estão maioritariamente alojados em casas de famílias”, conta Sara Poças.
“Depois, também há um terreno para reassentamento e, então, nós apoiamos, cedendo parte do terreno da missão, da machamba, que é a horta, o terreno de cultivo, para que as famílias dos deslocados possam cultivar essa machamba e possam ter alguma fonte de sustentabilidade alimentar, apesar de essas famílias estarem a ser apoiadas com o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas”, acrescenta.
Mais de 30 organizações da sociedade civil portuguesa estão a apelar ao envio urgente de ajuda humanitária para Cabo Delgado, Moçambique.
Recorde-se que aquela população está a viver, desde há quatro anos, violentos ataques, que já fizeram mais de 700.000 deslocados internos, numa catástrofe humanitária sem precedentes na região.
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Sara Poças explica à Renascença que a campanha “consiste em não deixar cair os conflitos em Cabo Delgado e o drama que se vive lá no esquecimento e também fazer pressão para que haja apoio humanitário, ajuda humanitária para essa região”.
“Os deslocados são cada vez mais e há o risco da ajuda humanitária que está a ser dada, não ser suficiente. Então, é para que haja também alguma intervenção ao nível dos governos e da União Europeia, no sentido de apoio a esta situação, e de pressão, para que haja resolução”, especifica.
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Numa ação conjunta nas redes sociais, as mais de 30 organizações portuguesas que trabalham em defesa da paz e dos direitos humanos através da ajuda humanitária e de emergência e da educação e cooperação para o desenvolvimento apelam ao Governo português, à União Europeia e às Nações Unidas que mobilizem todos os esforços para enviar com urgência ajuda humanitária para a região de Cabo Delgado.
E exigem o “cessar da violência, o respeito pelos Direitos Humanos e o desenvolvimento sustentado”, reafirmando que não se conformam “com a violência, com a injustiça e com o desrespeito pela dignidade humana”.
A iniciativa teve início no domingo de Páscoa e vai concretizar-se em todos os domingos, pelas 15h00, com as organizações da sociedade civil a dar voz à catástrofe em Cabo Delgado. A campanha pode se acompanhada através das redes sociais.
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