09 abr, 2021 - 07:00 • Ângela Roque
"Olhares sobre a pandemia, releitura da vivência da catequese" é o tema da Assembleia Diocesana de Catequistas do Patriarcado de Lisboa. No encontro, que vai decorrer online, vão ser apresentados e debatidos os resultados da pesquisa realizada em 26 paróquias, envolvendo 558 famílias, 601 adolescentes, 289 catequistas e 19 párocos, e que teve cinco eixos temáticos: Espiritualidade, Família, Digital, Ministério do Catequista e Comunidade.
“Fizemos quase 1.500 inquéritos, com questões acerca da experiência de fé e de relação com Deus, experiência de Igreja, experiência também de catequese, tendo como comparação o período antes da pandemia e o período da pandemia, com estes confinamentos e desconfinamentos”, diz à Renascença o responsável pelo Setor da Catequese do Patriarcado.
Para o padre Tiago Neto, este era um trabalho necessário para planificar o futuro. “Temos consciência de que a pandemia mudou e está a transformar a forma como as pessoas lidam com Deus, se relacionam com ele, a forma como as pessoas veem Deus, e como também compreendem o seu lugar e a forma de funcionar com a Igreja”.
O sacerdote começa por sublinhar o facto de o inquérito revelar que, apesar das dificuldades que a pandemia trouxe, ao nível do emprego e da saúde, não houve propriamente "crises de fé".
"As famílias redescobriram, e de alguma forma valorizaram, aquilo que era a sua experiência de relação com Deus em casa, a questão da família como Igreja doméstica, como lugar onde se partilha e vive fé. Os inquiridos dizem que não tiveram grandes crise de fé, e que de um modo geral a relação com Deus fortaleceu-se. E isso tanto a nível das famílias, como dos adolescentes, e dos próprios catequistas inquiridos. É muito interessante as pessoas dizerem que nesta situação encontraram na fé um conforto”, conta.
Entrevista
D. António Moiteiro defende catequeses presenciais(...)
As respostas recolhidas também mostram que, embora os meios digitais até estejam a permitir que haja mais assiduidade na catequese, os adolescentes em particular valorizam mais a dimensão presencial.
“Aquilo que sentimos a partir dos inquéritos é que, de facto, o digital para os adolescentes não é propriamente um meio de encontro com Deus. Eles preferem muito mais a dimensão prática e a dimensão relacional, e sentem essa falta e essa necessidade do contacto presencial", sublinha o responsável pelo Setor da Catequese do Patriarcado.
Tiago Neto reconhece que foram os meios digitais que permitiram manter a catequese a funcionar, mas a experiência não foi igual em todo o lado. Nem todas as comunidades conseguiram manter este serviço eclesial, e a Igreja corre o risco de não conseguir chegar a todas as crianças e jovens.
“A pandemia evidenciou aquilo que são fragilidades, particularmente em chegar a meios mais pobres e carenciados, por um lado. Por outro lado, as crianças mais pequenas, não consigo contabilizar em termos estatísticos, mas tenho a sensação de que houve muita gente que não se inscreveu na catequese, e nos primeiros anos há mais dificuldade”, admite o responsável pelo Setor da Catequese do Patriarcado, para quem é óbvio que “a Igreja terá de se reinventar naquilo que é a forma de propor a fé, particularmente às crianças, mas sempre envolvendo as famílias”, e continuando a apostar na formação de catequistas.
“Realizámos ao longo deste ano uma série de pequenas formações em ferramentas digitais. Tivemos cerca de 10 sessões, com a participação de muitos catequistas, até do estrangeiro, foi uma mais valia para os capacitar”, sublinha o padre Tiago, que acredita que a reflexão que agora vai ser feita “pode ajudar a repensar a articulação na catequese, entre o presencial e o digital, a forma como a catequese tem que se digitalizar, podemos dizer assim, sem nunca perder aquilo que é a dinâmica relacional entre as pessoas”.
A Assembleia Diocesana de Catequistas, que recebeu mais de 500 inscrições, vai decorrer entre as 14h30 e as 17h30 do próximo domingo, 11 de abril, em formato online, e contará com a participação do Cardeal Patriarca, D. Manuel Clemente.