11 abr, 2021 - 08:08 • Maria João Costa
O fim das moratórias vai complicar a situação social. O alerta é feito pelo bispo de Setúbal e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas.
Em entrevista à Renascença, à margem de uma homenagem ao poeta Sebastião da Gama, D. José Ornelas diz que têm chegado à Igreja, mas também às Instituições Particulares de Solidariedade Social cada vez mais pedidos de ajuda.
O bispo refere que é importante encontrar soluções para aqueles a quem a pandemia trocou as voltas. D. José Ornelas considera que os meses que se avizinham não serão fáceis. Num distrito já de si com um tecido social frágil, diz que “acabando as moratórias que foram feitas em termos de dívidas e compromissos bancários” a situação “vai tornar-se cada vez mais complicada”.
A grande maioria de moratórias de empréstimos bancários, que são as que foram feitas ao abrigo do sistema publico, termina em setembro. Uma parte das moratórias feitas ao abrigo do instrumento criado pela Associação Portuguesa de Bancos acabou no fim de março.
No terreno, refere D. José Ornelas autarquia, segurança social, Igreja e IPSS articulam esforços para responder aos pedidos que chegam em maior número todos os dias. São pedidos para fazer face a despesas correntes como o “pagamento de faturas de água, luz, aluguer” e que estão “crescendo muito”, admite o Bispo de Setúbal.
O sucessor de D. Gilberto Canavarro dos Reis lembra que ninguém pode ficar para trás. “O que interessa é encontrar soluções concretas para as pessoas, e sobretudo não deixá-las eternamente dependentes”, alerta o bispo. Nas suas palavras, espera “que este seja um momento de ultrapassar a crise para se chegar a uma melhor vida para todos e que todos tenham a possibilidade de colaborar de novo na transformação do país”.
Com um olhar futuro otimista, D. José Ornelas faz questão de sublinhar a resiliência dos setubalenses. “Esta é uma terra que tem sabido renascer das sucessivas crises”, lembra o sacerdote de origem madeirense. “É importante que as pessoas que mais sofrem com esta pandemia, que são aquelas que já eram mais frágeis, não sejam deixadas para trás”. D. José Ornelas conclui: “Vamos precisar de toda a gente para a recuperação” no pós-pandemia.
Questionado sobre a forma como a pandemia afetou a vivência da igreja, o Bispo de Setúbal explica que houve “gente que estava com grande saudade de voltar à igreja, outros não tanto”. Estes últimos casos, levam o D. José Ornelas a sublinhar que “sem dúvida que há um discernimento para fazer de novo”.
Os casos que mais preocupação levantam ao sacerdote, são os das crianças e dos jovens. “São crianças que nunca cheiraram a igreja durante um ano e tal e isso não é bom! Portanto, há todo um caminho para criar novas formas, de nos ambientarmos e de encontrarmos caminho”.
Nesta entrevista à Renascença à margem de uma homenagem ao poeta Sebastião da Gama, D. José Ornelas referiu a importância do autor para Setúbal. “É uma personagem marcante, entre outras de Setúbal”, diz o bispo, que lembra que Sebastião da Gama é também “muito importante para a Igreja de Setúbal”.
No dia em que em Vila Nogueira de Azeitão foi inaugurada a Casa-Memória Joana Luísa, Sebastião da Gama, o Bispo de Setúbal lembra que no distrito havia um colégio da diocese que levava o nome do poeta. “É para lá, brevemente, que vai a cúria diocesana”, anunciou aos microfones da Renascença, D. José Ornelas.