19 abr, 2021 - 14:59 • Ângela Roque
Miguel Neto conhece bem o setor do turismo. Pároco em Tavira, é desde a última semana o novo responsável da Obra Nacional da Pastoral do Turismo, onde já integrava a direção desde 2012.
A nomeação foi conhecida no final da Assembleia Plenária dos bispos portugueses. Há 10 anos que este sacerdote já coordenava esta área pastoral na diocese do Algarve, onde é também diretor de comunicação.
Em declarações à Renascença o padre Miguel Neto fala da preocupação com a crise que a pandemia trouxe ao turismo, e da vontade que a Igreja tem de ajudar.
É um grande desafio ficar responsável pela Pastoral do Turismo nesta altura de pandemia?
É, é um grande desafio. O turismo precisa de ser relançado, era uma parte importante na economia portuguesa e foi a área que sofreu mais com a pandemia. Estão em causa muitos empregos, muitas famílias estão a passar por muitas dificuldades, e a Igreja tem de ajudar esse setor, mais do que com palavras de esperança. Temos de perguntar a quem trabalha no turismo, e ao setor empresarial do Turismo, qual é o contributo que a Igreja pode dar.
Ser da diocese do Algarve ajuda a que conheça bem este setor do Turismo. Como é que a Igreja pode ajudar?
Vamos falar com os agentes, com as empresas do Turismo. Estamos a tentar construir a equipa da Obra Nacional da Pastoral do Turismo para esse efeito, e em princípio vamos ter algumas pessoas desse setor que me vão ajudar a perceber ainda melhor esse meio empresarial tão forte. Para já, vou ter uma reunião na próxima quarta-feira com a Secretária de Estado do Turismo. Já está agendada, irei a Lisboa ter uma reunião com a doutora Rita Marques, e de seguida também vou pedir uma reunião com o próprio Turismo de Portugal.
Portanto, entre as suas prioridades estão os contatos com as entidades oficiais e do setor do turismo?
Sim, neste momento as minhas prioridades são os contactos com as instâncias governamentais e com as entidades empresariais e do turismo, para tentar perceber qual o contributo de prático que a Igreja pode dar para alavancar este setor e contribuir para o surgimento em força do turismo no pós pandemia, esperando que não haja um retrocesso da situação sanitária.
O turismo também é importante para a Igreja como fonte de receitas. Essa também é uma preocupação?
É uma grande preocupação que começa a surgir, e é algo que também vamos trabalha, olhar para as igrejas como algo que seja o mostrar o património, saber acolher aqueles que nos visitam, não ser uma fonte de rendimento puro e duro.
Às vezes temos medo de falar destas coisas, eu já ouvi expressões como ‘pôr as igrejas a render’. Não é isso, basta olhar para outros países. É uma questão de preservar o património sem recorrer sistematicamente aos subsídios estatais. Claro que o Estado tem de dar o seu contributo, mas também é claro que a Igreja tem de se auto-sustentar e manter os seus edifícios. Para isso, aqueles que nos visitam também têm de perceber que ao contribuir no seu bilhete estão a manter o património que estão a visitar. Essa manutenção é cara, e para manter esses edifícios de uma forma correta temos de ir buscar receitas ao merchandising e a quem nos visita. Acho que esse é o caminho correto. Tenho algumas experiências relacionadas com a diocese do Algarve, que já estudámos, e que podemos tentar aplicar ao resto do pais.
Por outro lado, a questão do acolhimento nas nossas igrejas, que se revelou tão importante nesta pandemia, é um setor que a equipa da Pastoral do Turismo nacional tem de refletir, sobre o acolhimento e a formação dos guias turísticos que levam os grupos às igrejas, para mostrar o património e a sua riqueza, explicando convenientemente aquilo que está dentro das igrejas.
Há muito trabalho a fazer, assim haja imaginação. Trabalho que, sublinho, vem numa linha de continuidade da anterior direção da Obra Nacional da Pastoral do Turismo.
Quando é que terá a equipa completa?
Está praticamente completa, irei apresentá-la por estes dias ao D. José Traquina, responsável pela Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade Humana, da qual dependemos, e depois de ser aprovada será apresentada publicamente.