30 abr, 2021 - 17:43 • Lusa
A Igreja Católica oficializou esta sexta-feira a beatificação do médico venezuelano José Gregório Hernández, popularmente conhecido como "o médico dos pobres".
O ritual de beatificação teve lugar na Igreja do Colégio de La Salle, em Caracas, e foi transmitido em direto pelas televisões e rádios do país, usando o sinal matriz de Vale TV, o canal da Igreja Católica venezuelana.
"Com a nossa autoridade apostólica, concedemos ao venerável servo de Deus José Gregorio Hernández Cisneros, fiel leigo, especialista em ciência e excelente na fé, que, reconhecendo nos doentes, o rosto sofredor do Senhor (...), de agora em diante seja chamado beato", disse o núncio apostólico, Aldo Giordano, que presidiu a cerimónia.
Explicou também que a beatificação foi feita "acolhendo o desejo" do monsenhor Baltazar Porras Cardozo, arcebispo de Caracas, e que anualmente cada 26 de outubro (aniversário de Gregório Hernandez) será dia de festa para os católicos venezuelanos.
Segundo Baltazar Porras, a Igreja e os fiéis esperaram quase 72 anos pela beatificação, cujo processo se iniciou em 1949, 30 anos após a sua morte. .
O médico também se destacou por modernizar a prática da medicina na Venezuela e por ajudar os mais necessitados e, segundo o arcebispo, após a sua morte registaram-se vários milagres na saúde de devotos.
Explicou ainda que médicos, enfermeiras e milhões de migrantes sentem-se beneficiários de "favores especiais" do "venerável", que acodem à sua proteção e levam consigo "a marca indelével" d3 José Gregório venezuelano.
Após a beatificação foi revelado um quadro de José Gregório Hernández, uma réplica de um mosaico instalado na Igreja de Isbotú (onde nasceu), e uma menina, Yaxury Solórzano, a quem é atribuído o benefício de um milagre do "vulnerável", transportou uma relíquia do "médico dos pobres".
Enquanto decorria a cerimónia, que se realizou sob medidas de segurança e sob as limitações da pandemia de covid-19, dezenas de católicos concentraram-se junto da Igreja de Nossa Senhora de La Candelária, no centro de Caracas, onde estão os restos do beato.
Em 26 de outubro de 2020, médicos patologistas e representantes da Igreja Católica na Venezuela exumaram os restos de José Gregório Hernández. .
A exumação, que decorreu na Igreja de La Candelária, foi presidida pelo cardeal Baltazar Porras e o patologista Enrique López Loyo, presidente da Academia Nacional de Medicina da Venezuela.
A equipa de patologistas e testemunhas forenses inspecionaram o túmulo onde estavam os restos do médico venezuelano, transferidos em 1975 desde o Cemitério Geral do Sul.
José Gregório Hernández nasceu a 26 de outubro de 1864, em Isnotú, no Estado de Trujillo, 700 quilómetros a sudoeste de Caracas, e morreu atropelado, em 29 de janeiro de 1919, em La Pastora, na capital venezuelana, pouco depois de ter saído de casa para visitar uma doente.
Autor de 13 ensaios científicos reconhecidos pela Academia de Medicina da Venezuela, José Gregório Hernández destacou-se no tratamento de doenças como a tuberculose, a pneumonia e a febre amarela, tal como nas áreas da patologia, da bacteriologia, da parasitologia e da fisiologia, tendo descoberto uma nova forma de angina de peito de origem palúdica.
Foi também um reconhecido professor que falava vários idiomas, incluindo português, espanhol, francês, alemão, inglês, italiano e latim.
Entre os milagres analisados pelo Vaticano está o de uma menina de 10 anos, Yaxury Solórzano, baleada na cabeça durante um assalto.
Com prognóstico reservado devido à perda de massa encefálica, a menina recuperou depois de a mãe ter feito um pedido a José Gregório Hernández.
Os restos mortais encontram-se na igreja de Nossa Senhora de La Candelária, criada por imigrantes das Ilhas Canárias, em La Candelária, na capital venezuelana, uma zona com significativa presença de emigrantes portugueses.
De acordo com a imprensa venezuelana, são atribuídos ao "médico dos pobres" mais de 2.100 casos de cura.